Na visão do fundador e CEO do Grupo Stefanini, Marco Stefanini, o Brasil deveria priorizar debates de aumento de produtividade em detrimento de tentar acabar com a escala 6×1.

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Ao Dinheiro Entrevista, ele comenta que o Grupo Stefanini não pratica a escala 6×1, mas que a conjuntura atual não abriria tanta margem para esse tipo de de debate.

“Uma pessoa que foi nosso CEO da Europa, que infelizmente já faleceu, era um português que morou muitos anos no Brasil, mas é um cidadão global. Ele falava: ‘O Brasil ficou caro antes de ficar rico’. Isso na época quando o Brasil começou a ficar caro, começou a ter hábitos de rico, hábitos mais sofisticados, quando ainda era um país pobre. Então, acho que o Brasil deveria focar o debate em como aumentar a produtividade, como melhorar a renda do trabalhador, e não exatamente em criar algumas linhas de diminuir a carga de trabalho”, afirma.

“O Brasil às vezes tem debates e coisas de um país que parece a Escandinávia, quando a gente é um país pobre e nós temos várias regiões muito pobres, então acho que a gente tinha que ter um debate mais concreto. Um debate focado em como é que eu vou melhorar a renda do trabalhador através da produtividade, por exemplo”, completa.

O executivo relata que ‘trabalha 14 horas ao dia’, mas não defende que outros o façam – apenas que façam 40 horas semanas, o que classifica como uma ‘carga extremamente aceitável’.

A tese é de que essa debate sobre mudança de escala de trabalho – e de carga horária em si – é como pautas de preservação e ecologia.

“Ninguém vai falar contra, mas tem um peso muito maior na Noruega, por exemplo, que é um país que tem uma renda per capita de US$ 50 mil, do que num Brasil que é um país que tem uma renda per capita ainda baixa e uma distribuição de renda que precisa melhorar.”

Stefanini defende que a ‘educação segue sendo o principal debate’, mas que tem tomado pouco espaço das discussões.

Segundo o empresário, ‘mais da metade da questão da desigualdade social vem da questão da educação’ e ainda assim o Brasil não tem discutido mudanças de modelos de ensino e temas correlatos.

Presencial x Home office

Com 35 mil pessoas ao redor do mundo, o Grupo Stefanini trabalha com modelo híbrido para diversas áreas e 100% presencial em outras.

Segundo o CEO e fundador, ‘algumas coisas se perderam com o home office’, incluindo a ausência de relação humana em fluxos de criação de produtos, cultura corporativa e networking.

“Você simplesmente perde isso. Pessoas que estão entrando no mercado de trabalho tem mais dificuldade de aprender dentro da sua casa. Convivência da equipe também é algo importante, e isso você perde”, explica.

Na contramão, diz que há um eventual ‘ganho de produtividade’ por conta de os colaboradores não perderem o tempo de ir e voltar no escritório, principalmente em em cidades muito grandes e com muito trânsito.

‘Brasil é um dos países mais complexos’

Atualmente o Grupo Stefanini está presente em 46 países e, do total, o Brasil integra a ‘tríade dos mais complexos’, segundo o CEO da companhia. À IstoÉ Dinheiro, conta que a complexidade – jurídica e tributária – tornam o Brasil, a Itália e a Argentina geografias pouco business friendly.

“Dentro de todos os países que a gente opera, o Brasil certamente é um dos países mais difíceis. Primeiro, carga tributária é muito alta. O ambiente jurídico também tem uma insegurança, até em relação ao passado, e temos uma burocracia bastante forte. Então é um país que ainda, vamos chamar assim, não é o maior incentivador da iniciativa privada”.

Sobre a regulação, defende que a Lei da Informática deveria ser revisitada. A tese é de que, dado que a legislação tem mais de três décadas, uma repaginação seria necessária para balancear incentivos ao setor.

“É uma lei que observava a realidade na época. Ela incentiva basicamente o que a gente chama de hardware. São os computadores, que hoje não é onde tem o maior valor agregado. O maior valor agregado são nas empresas atividades de software e de serviços de tecnologia. E essas não são são abordadas, não são incentivadas pela Lei da Informática. Para mim, há um gap aí.”