06/07/2005 - 7:00
A semana do empresário Benjamin Steinbruch foi agitada. Na segunda-feira, numa bem arquitetada operação financeira com os bancos Pactual, Itaú BBA e Unibanco, ele conseguiu um empréstimo-ponte para quitar uma dívida histórica, contraída em 2001 quando realizou o descruzamento societário entre sua CSN e a Companhia Vale do Rio Doce. O credor, BNDES, havia emprestado US$ 1,7 bilhão para a operação e Benjamin teria até 2011 para pagar. Mas decidiu antecipar. ?Não devo mais nenhum centavo?, comemorou o dono da CSN. Na terça-feira, Benjamin festejou seu 52º aniversário. Na empresa mesmo, já que segundo seus assessores havia muito trabalho a fazer para o dia seguinte. É que na quarta, em nova operação financeira, ele pagou o tal empréstimo ponte aos três bancos, com dinheiro conseguido por meio de emissão de debêntures, e zerou de vez o episódio BNDES. E na quinta, livre dos compromissos financeiros de primeira hora, ele pode finalmente concluir a reestruturação societária do grupo. No maior negócio do ano entre pessoas físicas, os Steinbruch compraram a parte que cabia à família Rabinovich na Vicunha Siderurgia, encerrando uma parceria de 40 anos. A empresa é a maior acionista da CSN, com 40% das ações. Estima-se no mercado que o valor da transação supera os R$ 1,3 bilhão. No novo desenho acionário da Vicunha, a mãe de Benjamin, Dorothéa, fica com 60%, e seu tio Eliezer, com 40%. Benjamin, o homem que já teve dezenas de sócios ? Bradespar, Previ, Funcef, Opportunity, Bamerindus ? pode finalmente dizer: ?enfim, só?. O controle, agora, é todo dele. ?Era preciso fazer toda esta arquitetura financeira, trocando dívidas estatais por privadas, para abrir caminho para o controle total. Foi isso que ele fez?, diz José Alberto Baltieri, analista da Fator Corretora.
Explica-se: o compromisso com o BNDES, na prática, amarrava as intenções dos Steinbruch de comprar o quinhão dos Rabinovich. Por contrato, os dividendos da CSN distribuídos à Vicunha Siderurgia teriam obrigatoriamente de ser usados para pagar dívidas e juros com o banco estatal. E Benjamin tinha outros planos: queria usar os tais recursos para comprar ações dos sócios na Vicunha. A saída, então, foi fazer o empréstimo, quitar o BNDES, livrar os dividendos e abrir caminho para o clã Steinbruch reinar sozinho. De acordo com o mercado, o movimento não se resume à Vicunha siderurgia. Ele prevê também a aquisição de metade das ações votantes da Vicunha Participações que, por sua vez, controla 61,4% da Textilia, uma holding que detém 82,3% da Vicunha Têxtil. Traduzindo: a família de Benjamin também vai controlar a tecelagem.
É um grande negócio. A empresa é um dos cinco maiores produtores mundiais de índigo, fatura R$ 1,6 bilhão e está entre as três maiores companhias de tecido no País. É a única do setor totalmente verticalizada: produz desde o fio até o produto final. A Vicunha Têxtil é a menina dos olhos de Jacques Rabinovich. Quem acompanhou de perto as recentes negociações entre as duas famílias, diz que ?Jaquito?? como o ex-sócio de Benjamin é conhecido ? deu de ombros para a venda de suas ações na parte siderúrgica. Mas não nos tecidos. Ele fundou a Vicunha junto com Mendel, pai de Benjamin, e durante 40 anos manteve a sociedade com a família Steinbruch. Sempre fez questão de ficar com os teares e não com o aço. Mas, aos 75 anos, o empresário admitiu a aposentadoria. Confidenciou a amigos que andava cansado e que já não via com maus olhos a venda de sua parte no grupo. A preferência, por contrato e por afeto, sempre foi dos Steinbruch. E, assim que Rabinovich deu o sinal verde, Benjamin e família começaram a se articular. As negociações vêm desde janeiro deste ano. ?Foi um movimento operacional que deixa a família mais livre para a tomada de decisões. Na prática, é mais um ajuste na condução de um negócio que vem mostrando boa rentabilidade, boa geração de caixa, investimentos contínuos e dividendos acima da média?, avalia Baltieri, do Fator.