14/03/2018 - 20:12
O astrofísico britânico Stephen Hawking, que desafiou as expectativas de uma morte prematura para se converter no cientista mais popular do mundo, morreu nesta quarta-feira (14), aos 76 anos, na cidade universitária de Cambridge, na Inglaterra.
Uma fonte da universidade informou que sua saúde havia deteriorado nos últimos meses e que ele morreu enquanto dormia em sua casa na cidade britânica de Cambridge.
Hawking, cujo livro “Uma Breve História do Tempo”, lançado em 1988, se tornou um best-seller e o levou ao estrelato, dedicou a vida a desvendar os mistérios do universo e, apesar de nunca ter ganhado um Prêmio Nobel, era mais famoso do que qualquer pessoa premiada com ele.
Filho de professores nascido em 8 de janeiro de 1942, Stephen William Hawking se tornou um dos cientistas mais conhecidos do mundo e entrou para o panteão dos titãs da ciência, dono de uma “mente brilhante e extraordinária”, nas palavras da primeira-ministra Theresa May.
“Estamos profundamente tristes porque nosso querido pai faleceu hoje”, declararam os filhos do professor Hawking, Lucy, Robert e Tim, em um comunicado publicado pela agência britânica Press Association.
“Foi um grande cientista e um homem extraordinário, cujo trabalho e legado perdurarão por muitos anos”.
Hawking desafiou as previsões dos médicos, que lhe deram uma expectativa de vida de apenas alguns anos depois que ele foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) aos 21 anos, doença que ataca os neurônios responsáveis por controlar os movimentos voluntários e que o deixou em uma cadeira de rodas.
A doença o deixou progressivamente paralisado, ao ponto de conseguir comunicar-se apenas com a ajuda de um computador que interpretava seus gestos faciais.
“Sua valentia e persistência, aliadas ao seu brilhantismo e humor, inspirou pessoas em todo o mundo”, destacaram ainda seus filhos. “Vamos sentir sua falta para sempre”.
Suas ideias brilhantes e sua genialidade renderam fãs em todos os segmentos, muito além da astrofísica, e ele chegou a ser comparado com Albert Einstein e Isaac Newton.
– “Um universo de possibilidades” –
As bandeiras na faculdade de Gonville e Caius, na qual foi professor, tremulavam a meio mastro e os estudantes e docentes assinavam o livro de condolências.
“Era muito divertido e tinha um grande senso de humor”, contou Justin Hayward, que elaborou sua tese de doutorado entre 1991 e 1995 sob a supervisão de Hawking.
O homem que assegurou que não acreditava em Deus e que a ciência sempre ganha da religião “porque funciona” também foi homenageado pelo Vaticano.
“Ele disse aos quatro papas que conheceu que queria fortalecer a relação entre a fé e a razão científica. Oramos para que Deus o tenha em sua glória”, escreveu a Academia Pontifícia de Ciências Sociais.
Em um gesto inusual, a rainha Elizabeth II anunciou que enviará uma mensagem privada de pêsames à família em luto e o ex-presidente americano Barack Obama postou uma foto sua junto ao cientista com um desejo: “Divirta-se com as estrelas”.
O professor Alan Duffy, pesquisador do Centro de Astrofísica e Supercomputação do Royal Institution da Austrália, chamou o trabalho de Hawking de “lendário”.
“Seus textos foram inspiradores para muitos cientistas e ele enriqueceu as vidas de milhões (de pessoas) com as últimas perspectivas científicas e cósmicas”, afirmou.
A Nasa publicou no Twitter um vídeo do cientista sorrindo enquanto flutuava livremente durante um voo de gravidade zero no Kennedy Space Center da Flórida.
“Suas teorias desbloquearam um universo de possibilidades que nós e o mundo estamos explorando. Que você permaneça voando como o Super-Homem na microgravidade, como você disse aos astronautas da @space_station em 2014”.
Hawking “conseguiu comunicar a emoção que a ciência procura”, declarou à AFP um de seus colegas, o astrofísico Didier Queloz. “Seu cérebro funcionava de maneira notável, e de certa forma era para muitos uma vitória do espírito sobre o físico”.
– Ciência e Sucesso –
Grande parte de seu trabalho se concentrou em unir a relatividade (a natureza do espaço e do tempo) e a teoria quântica (a física do menor) para explicar a criação e o funcionamento dos cosmos.
“Meu objetivo é simples: entender completamente o universo, por que é como é e por que existe simplesmente”, afirmou uma vez.
Hawking foi um dos primeiros defensores da teoria do Big Bang para explicar a origem do Universo.
Suas pesquisas posteriores teorizaram que os buracos negros emitiam radiação, a “radiação Hawking”, como é conhecida.
Os buracos negros foram nomeados assim porque se acreditava que eram tão densos que nem mesmo a luz conseguia escapar deles, mas Hawking afirmou que algumas partículas podiam, sim, fugir pelos efeitos da mecânica quântica.
Hawking se tornou aos 32 anos um dos membros mais jovens da instituição científica de maior prestígio do Reino Unido, a Royal Society.
Em 1979 foi nomeado titular da prestigiosa Cátedra Lucasiana da Universidade de Cambridge, centro ao qual chegou procedente da Universidade de Oxford para estudar Astronomia Teórica e Cosmologia.
Hawking se casou em 1965 com Jane Wilde, com quem teve três filhos. Sua história de amor foi contada no filme de 2014, “A Teoria de Tudo”, que valeu um Oscar de melhor ator para Eddie Redmayne, que encarnou o cientista.
O casal se separou após 25 anos e o cientista se casou com a ex-enfermeira Elaine Mason, de quem se divorciou em 2006 em meio a boatos de maus-tratos, que ele negou.
Sua popularidade o levou a aparecer em séries de televisão como “Star Trek”, “The Big Bang Theory” e “Os Simpsons”. Além disso, sua voz aparece em uma canção do Pink Floyd.