Em alguns anos, quando historiadores se debruçarem sobre os acontecimentos da indústria mundial de tecnologia, um personagem irá se destacar como objeto de estudo: Steve Jobs. Fundador da fabricante de computadores Apple, ele chamará atenção por suas inúmeras faces. A mais recente está sendo formatada dentro do mundo do entretenimento. Desde o lançamento em abril deste ano do serviço de venda de músicas pela internet, iTunes, o presidente da Apple não pára de aparecer como a pessoa que pode salvar da bancarrota o mercado fonográfico internacional, acossado pela pirataria digital. Cobrando apenas US$ 0,99 por arquivo, Jobs vendeu 100 milhões de cópias para os proprietários de computadores Apple. Há duas semanas, o iTunes ganhou uma versão para o Windows e a chance de massificar o serviço em escala planetária. Já foram comercializados 1 milhão de arquivos nesse período e o sucesso da iniciativa levou o maior provedor de internet do mundo, a America On Line, a escolher a Apple como a sua loja oficial de músicas pela rede.

Steve Jobs é um pop star e se comporta como tal. Uma marca única que sabe do seu valor. Tais características o colocam em um pedestal que ele faz questão de cultivar. Ele não fala da sua vida pessoal e se irrita quando questionado sobre o tema. Sua paixão é a Apple e os produtos que desenvolve. O primeiro deles foi o computador Macintosh, que retirou das grandes empresas o poder de processamento do mundo digital e o levou para dentro das casas de pessoas comuns. No início da década de 80, ao lado do amigo Steve Wozniak, a quem se atribui a genialidade de montar o equipamento, Jobs foi alçado à fama antes de completar 30 anos. Já era aclamado antes mesmo do seu maior adversário, Bill Gates, com quem disputou o prestígio de ser o príncipe da tecnologia. Os produtos da sua empresa encontraram ressonância no movimento da contra-cultura. Era como se os hippies tivessem conquistado o mercado nos anos 80 com o Macintosh. A Apple representou a contestação ao modelo tecnológico das grandes corporações.

Com os milhões de dólares ganhos com o Macintosh, Jobs quis
fazer da Apple a maior fabricante de computadores do planeta.
Não conseguiu e foi submetido a uma das maiores humilhações do mundo corporativo. Foi forçado a sair após a empresa apresentar sucessivos prejuízos. Após deixar a companhia, ele passou alguns meses viajando de bicicleta pela Europa e na volta enveredou
pelo mundo do desenho animado. Comprou a empresa de animação Pixar. Fez o filme Toy Story, um estouro de vendas, e mudou a
forma como os adultos passaram a encarar os desenhos nas telas de cinema por todo o mundo. Jobs estava cuidando do seu negócio em Hollywood quando foi chamado pelos acionistas da Apple para salvar a empresa. Ele voltou em 1996 com carta branca e um sentimento de revanche. Desde então, a companhia só apresenta lucros. Primeiro, Jobs introduziu um novo design para os computadores na geração iMac. Arrogante, audacioso, inteligente e carismático, ele é um
sujeito que consegue agregar em torno de si uma legião de seguidores. Nascido em 1955 e adotado por uma típica família de classe média dos Estados Unidos, o presidente da Apple faz apostas a cada dia, o que o transforma em sucesso de crítica e público. E também no homem das mil faces.