SÃO PAULO (Reuters) – A demanda por gasolina nos postos do Brasil deve crescer 2,5% em 2023 ante o ano passado, para 44,1 milhões de metros cúbicos, influenciada principalmente pela dinâmica entre os combustíveis do Ciclo Otto, apontaram estimativas da StoneX divulgadas nesta terça-feira.

No primeiro bimestre, o país registrou demanda de 7,5 milhões de m³ de gasolina, crescimento de 14,4% em relação ao mesmo período de 2022 e de 17,6% no comparativo com a média dos últimos cinco anos, disse a consultoria, citando dados da reguladora ANP.

O forte crescimento, pontuou a StoneX, ocorreu enquanto a gasolina manteve vantagem sobre o etanol hidratado, seu concorrente direto nas bombas, devido à continuidade da isenção de impostos federais desde o fim de junho de 2022.

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Esse cenário que desfavorece o etanol, no entanto, pode mudar com o avanço da safra sucroenergética 2023/24 (abr-mar) do centro-sul brasileiro, que deve aumentar a oferta do biocombustível no mercado nacional, principalmente devido a uma projeção mais otimista em relação à produtividade dos canaviais.

“Assim, a oferta mais ampla favorece uma possível queda nos preços do biocombustível, que por consequência reduziria a paridade dos combustíveis abaixo de 70%, enfraquecendo a demanda do fóssil no segundo e terceiro trimestre de 2023”, disse a StoneX em relatório a clientes.

A demanda nacional por etanol hidratado foi projetada em 16,4 milhões de metros cúbicos em 2023, um aumento de 5,4% em relação ao ano anterior.

“Esse crescimento deve ser influenciado pelo andamento da safra de cana-de-açúcar 2023/24, que tende a ter uma melhor produtividade e consequentemente apresentar uma maior oferta do biocombustível, como também pela retomada na cobrança dos impostos federais que passou a vigorar, parcialmente, desde o início de março”, disse a StoneX.

O retorno dos impostos federais desde o início de março, segundo a consultoria, vem motivando uma alta nos preços da gasolina, com um incremento de 0,47 reais/litro, enquanto o etanol subiu 0,02 real/litro. Isso levou a uma redução na paridade, que passou de 74,3% em fevereiro para 71,2% em março.

No primeiro bimestre de 2023, o Brasil registrou um consumo de 2,16 milhões de m³ de etanol hidratado, uma retração de 0,8% ante o mesmo período de 2022 e uma queda de 29,6% no comparativo com a média dos últimos cinco anos.

A consultoria projetou ainda que a demanda por combustíveis do Ciclo Otto no Brasil deve avançar 3,1% neste ano, a 55,6 milhões de metros cúbicos.

A projeção da StoneX indica um ganho de 0,6 ponto percentual da participação de mercado do etanol hidratado em relação a 2022, totalizando 27,1%.

“Essa recuperação vem atrelada a uma paridade inferior a 70% nos meses de maior intensidade de colheita dos canaviais no Centro-Sul brasileiro, cenário que tende a fortalecer a demanda pelo biocombustível”, disse a consultoria.

A StoneX ponderou, entretanto, que o crescimento fica limitado devido à uma paridade mais apertada ou desfavorável no primeiro e último trimestres do ano.

No relatório, a consultoria pontuou que o mercado de combustíveis “ainda carrega algumas incertezas, especialmente em relação à precificação da gasolina”.

“Apesar de estar prevista a retomada da cobrança dos impostos completa a partir de julho 2023, qualquer queda no mercado internacional –petróleo ou dólar– pode gerar novos cortes pela Petrobras, prejudicando assim a paridade”, afirmou.

Além disso, destacou a StoneX, o etanol não tem muito espaço para ceder por parte das usinas, uma vez que novas quedas podem trazer o preço abaixo ou muito próximo do custo de produção, prejudicando as produtoras no médio e longo prazo.

(Por Roberto Samora e Marta Nogueira)

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