Quando Bill Gates decidiu pegar US$ 20 bilhões de sua fortuna pessoal para investir em projetos sociais, não quis entregar esse dinheiro na mão de qualquer um, e muito menos vê-lo desaparecer sob a gestão de entidades mal administradas. Para solucionar o problema, criou sua própria fundação, que cresceu e tornou-se a mais rica do mundo, com um patrimônio de US$ 35 bilhões. Poucos têm capital semelhante para investir em filantropia. Mas, se você quer ajudar e ainda não pode montar sua fundação, existem maneiras de fazer suas doações se perpetuarem mesmo quando não estiver mais por aqui. Investir em entidades e projetos que aplicam seu capital no mercado financeiro pode ser uma saída. Eles mantêm o capital investido por anos a fio e utilizam somente os rendimentos das aplicações para patrocinar obras sociais. A fonte financeira nunca seca. Nos Estados Unidos, essa prática é comum. Aqui, ainda engatinha, mas já permite a participação de doadores.

Um exemplo disso é a SOS Mata Atlântica. Os recursos de seus projetos já eram normalmente aplicados em fundos de renda fixa. Mas eles decidiram ousar e testar o modelo americano, o chamado endowment. Em um projeto de conservação da costa atlântica, captaram recursos e aplicaram tudo em um fundo de investimentos. O lucro será utilizado para a manutenção do projeto. Já o dinheiro investido servirá para manter sua sustentabilidade. Tanto pessoas físicas quanto empresas podem doar. ?Já conseguimos R$ 2 milhões para o fundo, mas nosso objetivo é chegar a R$ 5 milhões em 2010?, conta Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica. A Fundação Abrinq é outra que também aplica no mercado os recursos captados para perpetuar suas ações sociais. ?As duas fundações são as que mais se assemelham com o modelo norte-americano de filantropia?, diz João Paulo Altenfelder, superintendente do Gesc, um instituto de gestão social de São Paulo.

Quem quiser garantir a gestão financeira adequada de seus recursos filantrópicos deve procurar ajuda de profissionais. Os objetivos do doador devem ser levados em conta na hora de decidir os investimentos, equilibrando- se os riscos e os prazos de retorno. O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) quer agrupar pessoas que se disponham a juntar o capital suficiente para financiar um projeto, que pode ser desde a construção de uma creche até doa- 37 bilhões. Esse número se torna mais notável se comparamos com o Reino Unido, que possui a segunda maior indústria de filantropia do mundo e movimenta anualmente US$ 79 bilhões.

Uma das maiores fundações, a Oxfam, administra US$ 627 milhões. Os Beatles foram seus garotos-propaganda nos anos 60. O dinheiro arrecadado com a ajuda deles rende até hoje.