Os investidores-anjos estão dispostos a investir R$ 2,6 bilhões até 2015, no Brasil. Para obter parte dessa bolada, o empreendedor não precisa rezar ou acender vela para algum santo de sua devoção. Basta ter um projeto na cabeça e um plano de negócios bem estruturado. Esse é o principal fator apontado pelos investidores-anjos ao serem questionados sobre o que os motivaria a investir numa determinada startup, como são chamadas as empresas iniciantes de tecnologia. Eles aportam em média R$ 326,6 mil a cada empreendimento, segundo pesquisa da Anjos do Brasil, associação que representa 1.040 investidores-anjos brasileiros.

“Dinheiro há, mas projetos inovadores capazes de crescer são difíceis de achar”, afirma Cássio Spina, presidente da Anjos do Brasil, já colocou dinheiro em ao menos sete startups, como a PetHub, que reúne cuidadores de cães. O Brasil, segundo a pesquisa, conta com 6,4 mil investidores-anjos. É um resultado e tanto, mas bem inferior aos Estados Unidos, cujo número é 11 vezes maior. Os americanos investem muito mais. No ano passado, gastaram US$ 24,8 bilhões, segundo o Centro de Pesquisa de Investimentos da universidade de New Hampshire.

A pesquisa brasileira aponta, ainda, que os anjos brasileiros preferem fazer aportes em empresas de tecnologia. É fácil de entender a razão. Pesquisa anual da consultoria Deloitte com pequenas e médias aponta que 27% das 250 que mais cresceram eram do setor tecnológico. “Elas nascem com estruturas enxutas, às vezes de cinco funcionários, que apresentam uma curva de crescimento muito rápida, o que as faz muito atraentes para os investidores”, afirma Giovanni Cordeiro, gerente da área de pesquisa da Deloitte. Mas o que leva um investidor-anjo a apostar em uma empresa?

A receita, na maioria das vezes, não difere da avaliação feita por fundos de private equity de primeiro, que injetam recursos em grandes companhias: negócios inovadores em mercados que tenham um potencial significativo e de alta rentabilidade. “A startup deve deixar claro qual problema resolve em seu plano de negócios”, diz Spina. Outro quesito relevante é o time que criou a startup. Vale lembrar: o investidor-anjo não executa, ele apenas orienta e apoia. “O investidor-anjo quer saber o que o empreendedor já fez, para avaliar se ele tem capacidade de executar o plano de negócios”, diz Gustavo Caetano, presidente da Associação Brasileira de Startups e CEO da Sambatech, que atua no mercado de vídeo online.

Um fator relevante, avaliado por dez entre dez investidores anjos, é se o negócio não é facilmente copiável. Em resumo, qual a barreira de entrada a novos concorrentes. Além disso, o empreendedor precisa destacar a expectativa de retorno do investimento e estabelecer a perspectiva do desinvestimento – 95% dos respondentes disseram que esse fator é “fundamental” ou “muito importante”, segundo a pesquisa da Anjos Brasil. Afinal, o objetivo dos investidores é multiplicar o dinheiro com apostas arriscadas nessas empresas iniciantes. “Avaliar o potencial de investimento é uma arte e não uma ciência”, afirma o investidor Yuri Gitahy, que aplicou recursos em quatro startups.

“Isso se aprende com o tempo.” Nos Estados Unidos, o desinvestimento dos anjos passa, muitas vezes, por uma abertura de capital na bolsa de valores. No Brasil, isso é raro, devido ao mercado de capitais, que ainda privilegia grandes empresas. Mas, de acordo com Gitahy, até agora o País não desenvolveu startups que valem mais de R$ 1 bilhão, algo comum no mercado americano, por uma boa e simples razão: a maior parte dos empreendedores nacionais prefere vender a empresa quando seu valor está em torno de apenas R$ 10 milhões em vez de administrá-la até ganhar porte e – aí sim – abrir o capital. “É preciso resistir”, diz Gitahy.