“Vocês existem e são valiosos para nós“. Essa frase deveria virar mantra em todas as empresas. Deveria ser repetida todos os dias na frente do espelho por pessoas que se sentem diminuídas por pertencerem a grupos historicamente minorizados por homens brancos. Deveria ser dita incansavelmente para crianças que sofrem bullying por serem pretas, pobres, mulheres, indígenas ou com gênero diferente ao do heteroafetivo. Se você não sabe do que estamos falando. Corra e assista o discurso de posse do Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Com essa frase destinada nominalmente aos diversos grupos – “Trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós. Mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós. Pretos e pretas…” e assim continua por mais de 1 minuto — o ministro disse o óbvio: esses grupos não só eram diminuídos em sua existência, como invisíveis aos olhos da sociedade.

Silvio Almeida toma posse como ministro dos Direitos Humanos e Cidadania

Essas pessoas ouviram pela primeira vez de uma autoridade pública que ele como porta-voz oficial de um Estado as enxerga e valoriza. E nós demoramos 134 anos para dizê-la em voz alta (contando aqui a partir da República, porque falar em direitos humanos antes disso parece piada de mal gosto ou no mínimo certa miopia histórica). Nós erramos feio como Nação e pioramos o nosso nível de estupidez nos últimos quatro anos quando nos foi tirado pelo Estado o direito de ser quem queremos ser, nos impondo uma identidade de homem branco e hétero.

Com a fala do ministro, qualquer um agora pode entoar em alto e bom som: sou quem eu quiser ser, existo e sou valorizado pelo meu País por isso.

E as empresas?

Pois é. Temos muito a refletir. Fato é que ainda que a tal agenda da diversidade tenha ganhado a atenção do departamento dos recursos humanos, as mesas da diretoria e espaços nos relatórios apresentados aos acionistas, é preciso fazer a pergunta: a identidade dos representantes dos grupos minorizados está sendo respeitada e valorizada ou eles são meras estáticas para construção de narrativas socialmente responsáveis?

Reconhecer a identidade vai muito além de contratá-los. É entender o contexto de vida desses talentos, suas ambições, frustrações, limitações e excelências. Isso significa tratar os diferentes de forma diferente para que tenham oportunidades iguais. Os processos de contratação de funcionários, de terceirizados e de fornecedores como estão construídos hoje têm que morrer.

Não sejamos ingênuos, porém, em acreditar que grandes corporações conseguirão individualizar o atendimento às necessidades de cada uma dessas pessoas. Mas talvez possam criar trilhas específicas para grupos distintos, ou pensar em um novo modelo. Afinal estamos na era da disrupção e a tecnologia pode ser forte aliada da inclusão efetiva.

Quem enxerga a mudança como um custo impensável nesses dias, estude as falas das autoridades públicas que foram nomeadas ministros — deixe a birra político-partidária de lado, e os veja falando. Escute os empreendedores que fazem parte dos grupos minorizados. Converse atentamente com os jovens. Quem conhece realidades diferentes, pensa diferente e isso pode ser o grande diferencial para sua empresa sair da bolha de consumo em que está e começar a se relacionar com o Brasil.