Apaixonado por tênis e Fórmula 1, o empresário e banqueiro brasileiro Antonio Carlos de Almeida Braga escolheu Portugal para desfrutar de sua aposentadoria. Braguinha, como é conhecido, é dono do Banco Icatu, hoje administrado pelos seus filhos Kati e Luis Antônio, e foi um dos maiores investidores das bolsas brasileiras dos anos 1980. Para ficar mais perto dos circuitos esportivos e receber amigos como o ex-piloto Emerson Fittipaldi e o ex-tenista Gustavo Kuerten, Braguinha passa boa parte de seu tempo em sua cinematográfica Quinta Penalva, em Sintra, vila portuguesa no Distrito de Lisboa. Privilégio de uma minoria abonada, até recentemente, desfrutar dessa vizinhança se tornou mais factível nos últimos tempos. 

 

80.jpg

 

Graças ao cataclismo econômico que varre a Europa em geral e Portugal, em particular, para se ter uma casa portuguesa com certeza não é preciso ser dono de uma grande fortuna, como o velho Braga. “Com a crise, o valor dos imóveis caiu e se tornou um bom investimento, principalmente para quem busca renda com aluguel”, afirma o corretor português Eduardo Evangelista Luis. “Quem comprava deixou de comprar, os bancos emprestam menos e as pessoas, antes proprietárias, se tornam inquilinas, o que eleva a demanda por locação.” A verdade é que, após cinco anos com o bonde da economia ladeira abaixo, os preços dos imóveis portugueses estão despencando. 

 

81.jpg

 

 

Em média, o metro quadrado de um imóvel de alto padrão além-mar custa um terço do correspondente deste lado do Atlântico. “Comprar uma boa casa portuguesa sai mais em conta do que investir em um imóvel mediano no Brasil”, afirma Paulo Elísio de Souza, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro. Segundo ele, o metro quadrado de um prédio novo, de alto luxo, na região mais nobre de Lisboa, sai por cerca de € 4 mil (R$ 10 mil), contra até R$ 35 mil cobrados nas avenidas Vieira Souto ou Delfim Moreira, no Rio de Janeiro, por exemplo. “Pelo preço que se paga em um apartamento de 300 metros quadrados nessas avenidas cariocas, é possível ser dono de um castelo em Sintra”, diz Souza. 

 

De olho nessa demanda, e com o objetivo de alavancar a economia do país, o governo português aprovou, em setembro do ano passado, uma lei que transforma o comprador de um imóvel com valor superior a € 500 mil em residente português, um grande passo para a obtenção da cidadania lusitana. Essa iniciativa já elevou o número de investidores brasileiros no país. De acordo com números do Banco Central do Brasil, o investimento brasileiro direto em Portugal atingiu US$ 128 milhões em 2012, um aumento de 32% em relação ao ano anterior. Portugal, no entanto, não está entre os principais destinos de investimentos brasileiros, ocupando a 20ª posição no ranking liderado pelos Estados Unidos e Espanha. 

 

82.jpg

Luxo e sossego: Braguinha, o empresário brasileiro dono do Banco Icatu,

passa boa parte de seu tempo em sua Quinta Penalva, em Sintra

 

“O brasileiro está descobrindo o país agora”, afirma Souza. O setor imobiliário é o alvo mais recente desse interesse por Portugal. “A facilidade da língua e as semelhanças culturais vão fazer com que o brasileiro olhe para Portugal como uma opção de investimento”, diz Ligia Mello, especialista da Hibou, empresa paulista de pesquisas para o mercado imobiliário. Segundo ela, um apartamento de dois quartos em Lisboa pode ser alugado por cerca de € 625 mensais. Na região da cidade turística de Cascais, o aluguel de um apartamento novo, de dois quartos, sai por cerca de € 700. “Isso significa um retorno mensal de 0,5% ao mês, já que imóveis com essas características podem ser encontrados por cerca de € 140 mil em ambas as cidades”, diz Ligia. 

 

83.jpg

Imóveis além-mar: comprar uma casa em Portugal sai mais em conta

do que investir em um imóvel no Brasil, diz Souza, da Câmara

Portuguesa do Rio de Janeiro

 

Entre os brasileiros, a maior procura é por imóveis residenciais. No entanto, também há oportunidades nos comerciais. “A alternativa, nesse caso, é mais usada por fundos de investimentos, que enxergam uma oportunidade pontual de mercado”, diz Ligia. Um exemplo é o Olissipo, fundo imobiliário que terá em sua carteira hotéis, terrenos, escritórios e residências localizados na região metropolitana de Lisboa. A meta do fundo é captar € 200 milhões, com um retorno que pode ultrapassar 9% ao ano. “Acreditamos que 2013 é o ano ideal para o investimento, antes do início da recuperação econômica, prevista para o fim de 2014”, afirma Miguel Aguiar, gestor do fundo.

 

84.jpg