A notícia tem um quê de inusitado e pegou o mercado de surpresa. O portal de comércio eletrônico Submarino vai abrir uma financeira. Não por conta própria, mas em parceria com a Cetelem, maior financeira da Europa que desde 1999 atua com o Carrefour no Brasil. A idéia é financiar as compras on-line dos 1,4 milhão de clientes da varejista virtual. Na noite da quarta-feira 15, o Submarino anunciou a joint venture com um Fato Relevante, sem revelar o valor do negócio. Analistas do mercado financeiro apuraram que o montante pago pelos franceses para ter acesso à carteira de clientes do Submarino foi de R$ 270 milhões. Desse total, no entanto, R$ 80 milhões teriam sido destinados aos acionistas controladores. Isso significa que, em vez de ter R$ 270 milhões em caixa para financiar seus clientes, a financeira começará as operações com R$ 190 milhões. E como o Submarino é uma empresa listada no Nível 1 do Novo Mercado (no qual só há ações ordinárias e todos os acionistas têm os mesmos direitos), os analistas argumentam que não deveriam existir investidores de primeira e segunda classe. É possível que surjam contestações à operação na CVM.

O possível atrito com investidores aconteceria em um mau momento. Também na semana passada, veio a público a informação de que o Submarino fará uma oferta de ações de US$ 300 milhões que pulverizará o controle da companhia, hoje nas mãos dos fundadores. A demanda provavelmente será forte, já que os papéis da loja virtual têm valorização de 167% em menos de um ano.

Pelo menos de início, o objetivo da joint venture é distribuir um milhão de cartões de crédito com a bandeira Aura, da Cetelem, aos consumidores do Submarino nos próximos cinco anos. Os primeiros plásticos chegam ao mercado entre julho e setembro, quando estiver resolvida a engenharia financeira da parceria ? que demandará investimentos de R$ 100 milhões. A experiência de casamentos como os de Pão de Açúcar com Itaú ou Bradesco com Casas Bahia mostra que parcerias entre financeiras e redes do varejo tradicional elevam as vendas das lojas em até 20%. ?É plausível que o resultado se repita no Submarino?, avalia Álvaro Musa, da Partner Consultoria.

Os detalhes operacionais da parceria ainda não são conhecidos. As duas empresas preferem ater-se aos comunicados ao mercado. Não está claro, por exemplo, se haverá (e como será feita) a aprovação de crédito on-line. Existe tecnologia para fazê-la em tempo real, mas isso tornaria mais lento o processo de compra. Uma alternativa, segundo Luiz Biasetto, da consultoria Gouveia de Souza, seria pré-aprovar a transação, mas condicionar a entrega do produto à análise de crédito do cliente. Nesse caso, o risco é de aumento no tempo de resposta a uma encomenda ? o que minaria uma das características mais admiradas pela clientela do Submarino, a rapidez.