19/01/2005 - 8:00
Era quase inevitável. Na esteira do falecimento do banqueiro Sabino Corrêa Rabello, fundador do Banco Rural, no último dia 7, a semana passada foi tomada por rumores sobre a venda da instituição. Nos últimos anos, Rabello sabidamente recusara diversas ofertas de compra, deixando claro aos interessados que o Rural ficaria sob controle da família enquanto ele estivesse vivo. Com a sua morte, estaria supostamente aberto o caminho para negociações ? sobretudo em um momento complicado para os bancos médios, que perderam recursos depois da intervenção no Banco Santos em novembro. Sem surpresa nem ultraje diante dos rumores, a família Rabello e os executivos que comandam a instituição sugerem apenas que aqueles que esperam agora um Rural aberto a propostas estão perdendo tempo. Kátia Rabello, filha de Sabino e presidente executiva da instituição, tem dado demonstrações de que, apesar do estigma de bailarina que virou banqueira por acidente, herdou mais do que capital acionário. ?Meu pai não vendia nem carro velho?, lembrou ela, recentemente, a uma pessoa próxima. ?Carro velho, eu vendo. Banco, não.? Por meio de uma doação em vida de suas ações, Rabello dividiu o controle da instituição entre suas cinco herdeiras diretas: a esposa Jandira, as filhas Kátia e Nora e as netas Vitória e Renata. Um acordo judicial familiar, assinado na semana passada, ratifica a posição de Kátia como presidente executiva e a nomeia substituta do pai na presidência do Conselho Administrativo. Assim, um ?não? pronunciado por ela vale muito.
?O Banco Rural não está à venda?, garante José Roberto Salgado, vice-presidente da maior instituição financeira de Minas Gerais, com patrimônio líquido de R$ 700 milhões. Salgado é, na prática, o principal executivo do banco desde o falecimento de José Augusto Dumont, braço direito de Kátia, no ano passado. Bailarina profissional e empresária no mundo da dança, ela surgiu no cenário das finanças em 2000 ao suceder a irmã mais velha, Júnia Rabello, morta em um acidente de helicóptero após comandar a instituição por 20 anos. Para tentar fazer com que seu desejo de preservar o controle familiar do banco prevaleça, Sabino Rabello preparou um plano de sucessão, com assessoria da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, e do consultor especializado Renato Bernhoeft. As filhas de Júnia, Vitória e Renata, com 18 e 24 anos, já se preparam para participar da gestão. Por enquanto, as duas herdeiras demonstram compartilhar ao menos uma das paixões da mãe, o hipismo. Elas administram um outro empreendimento da família, o Centro Hípico Júnia Rabello. Já os dois filhos de Kátia, ainda adolescentes, devem começar os treinamentos este ano.
Com essa estratégia, os projetos do Rural em andamento não sofreram interrupção. ?Sabino deixou tudo preparado para uma sucessão tranqüila?, atesta Roberto Rigotto, vice-presidente do BMG, que trabalhou por 15 anos no Rural. Na lista de novas empreitadas, destaca-se a abertura de um banco em Angola, neste semestre. No front interno, Salgado diz que os efeitos negativos da intervenção no Banco Santos já foram superados ? sem a venda de linhas de crédito para bancos maiores, como nos casos de BMC, Cruzeiro do Sul e, na semana passada, Panamericano. Quanto ao futuro, as interrogações persistem. ?Quando um fundador com o perfil de dono morre, é comum o mercado especular sobre a venda do grupo?, diz Elismar Campos, da Fundação Dom Cabral. Muitos negócios familiares só permanecem nas mãos da família por um capricho do fundador ? nem sempre compartilhado pelos herdeiros. Por isso, Kátia precisará de tempo e persistência se quiser provar ao mercado que só vende carros velhos.
BANCO DE MÉDIO PORTE
Patrimônio líquido
R$ 700 milhões
Lucro líquido
R$ 60 milhões
Ativos totais
R$ 7,6 bilhões
Operações de crédito
R$ 4,5 bilhões
Posição no ranking do BC
22º