17/12/2020 - 3:50
Apesar da adoção de medidas mais rígidas pelas autoridades nas últimas semanas, a Suécia e sua atípica estratégia contra o coronavírus enfrentam novamente grandes dificuldades com a temida segunda onda, que o país nórdico acreditou durante muito tempo que conseguiria evitar.
“A Autoridade de Saúde Pública havia preparado três cenários no verão. Nos baseamos no pior deles. Porém, está duas vezes do que se temia”, afirmou à AFP Lars Falk, diretor do departamento de UTI no hospital Karolinska de Estocolmo.
Serviços de reanimação sob pressão, demanda por reforços de profissionais de saúde qualificados em Estocolmo, taxa de mortalidade até 10 vezes superior a dos vizinhos nórdicos: durante o outono, a estratégia sueca, menos estrita a respeito da epidemia, repete o balanço medíocre da primavera.
“Lamentavelmente, o nível de contágios não diminui. Isto é muito preocupante”, declarou à AFP o diretor de saúde da região de Estocolmo, Björn Eriksson, que descreveu uma “pressão extrema sobre o sistema de saúde”.
Depois de pedir o reforço de profissionais qualificados, em particular nas clínicas privadas, na terça-feira ele ordenou o cancelamento de todas as cirurgias eletivas na região.
“Já chega! Não vale a pena beber algo depois do trabalho, encontras pessoas fora de casa, fazer compras de Natal ou tomar um café: as consequências são terríveis”, declarou na semana passada.
No início da semana, as internações por covid-19 na Suécia igualaram o pico de abril, com quase 2.400 pacientes – mas a proporção de pessoas nas UTIs é a metade do período da primavera, o equivalente a 10%.
O número de mortes chegou a 7.802 na quarta-feira – mais de 1.800 desde novembro – e o de novos casos se aproxima do nível recorde, com mais de 6.000 por dia em média, de acordo com os dados oficiais.
– Novas medidas –
Sem máscara, fechamento de bares, restaurantes e lojas, nem quarentena obrigatória, a Suécia se distinguiu por uma estratégia baseada essencialmente em “recomendações” e poucas medidas coercitivas.
Mas diante do aumento expressivo dos casos, as autoridades anunciaram recomendações mais estritas – como o encontro apenas com pessoas da mesma residência -, mas o não cumprimento não é penalizado.
Ao contrário de uma visão generalizada, o país escandinavo nunca perseguiu a imunidade coletiva.
As autoridades de saúde, no entanto, consideraram por muito tempo que o nível elevado de contaminação na primavera permitiria, sem dúvida, conter de maneira mais fácil um ressurgimento da epidemia a longo prazo.
“Acredito que teremos uma contaminação relativamente baixa no outono”, afirmou em agosto o epidemiologista chefe do país, Anders Tegnell.
Os fatos deram razão a Tegnell por algum tempo, mas a segunda onda, que a Suécia acreditava que conseguiria evitar, terminou atingindo o país, apenas um pouco mais tarde que em outras regiões da Europa.
A taxa de sobremortalidade superou 10% em novembro, de acordo com o Escritório de Estatística, e deve continuar piorando.
Apesar das críticas de uma comissão independente na terça-feira, o primeiro-ministro Stefan Löfven se negou até o momento a chamar a estratégia de fracasso.
“A maioria dos especialistas não viu a onda diante deles, falavam de focos localizados”, declarou em uma entrevista ao jornal Aftonblad
“Apertamos os parafusos, mas acho que devemos fazer ainda mais, sobretudo durante o período de festas de fim de ano”, disse Falk.
O governo apresentou um projeto de lei que permitirá fechar as lojas e os restaurantes. Mas a entrada em vigor está prevista para meados de março.
Como o restante da União Europeia, a Suécia também tem muitas esperanças na vacinação, que espera iniciar ainda em dezembro, com o objetivo de imunizar toda a população até meados de 2021.