A primeira semana de novembro é marcada pela penúltima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom do BC) em 2023. Nesta quarta-feira, 1º, o Copom decide novamente sobre a taxa básica de juros – a Selic – e a expectativa é de mais um corte de 0,50 ponto percentual (p.p.). Em paralelo, a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforça metas de déficit zero nas contas públicas para 2024 e o compromisso com o marco fiscal – no qual o mercado e os diretores do BC estão de olho.

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A taxa Selic chegou ao patamar de 12,75% após duas quedas consecutivas. O trajetória ficou estática por cerca de 10 meses a 13,75%, índice duramente criticado por Lula. Segundo analistas, o Copom, do qual faz parte do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e mais nove conselheiros, devem votar para que os juros caiam para 12,25% ao ano. A expectativa é fechar 2023 com juros a 11,75%.

“Meu entendimento é que o Copom vai persistir os cortes de 0,50 pp, mas é possível que o Conselho comece a discutir já a taxa terminal e eventualmente a desaceleração dos cortes caso o cenário externo incerto persista ou se agrave”, avalia André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ainda segundo ele, manutenção das taxas de juros americanas mais altas por mais tempo e o preço de energia por conta das guerras podem também influenciar decisões diferentes para as reuniões em 2024.

“O que vimos nas últimas semanas foi o mercado começando a divergir quanto ao ritmo dos cortes no próximo ano e principalmente a respeito da Selic ao fim deste ciclo de corte de juros, com a as principais casas no boletim Focus falando em cerca de 9% e o mercado futuro de juros precificando algo próximo de 11% de taxa terminal”, avalia também o economista e sócio-fundador da GT Capital, Rodrigo Azevedo.

Reginaldo Nogueira, PhD em Economia e diretor sênior do Ibmec, segue a mesma linha. “Não acredito em surpresa para a decisão do Copom do essa semana, e devemos seguir com o corte de 50 pontos básicos. O cenário para 2024, todavia, se tornou mais incerto. As expectativas de inflação para o próximo ano aumentaram, chegando a 3,9%. O cenário internacional é mais complexo, com as guerras na Ucrânia e Oriente Médio”, explica.

Ao mesmo tempo que o Brasil decide seus juros, os EUA também tem representantes reunidos para determinar sua taxa, que deve permanecer inalterada na casa dos 5,25%-5,50%. Também em terras norte-americanas, há preocupação com a meta de inflação: o presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, afirmou que inflação está longe da meta de 2%.

“Considerando o diferencial de juros e os efeitos na economia, uma taxa elevada por mais tempo nos EUA tende a limitar os esforços do Copom de reduzir a Selic por aqui. Isso porque ao reduzir os juros e consequente diminuir o diferencial, o fluxo estrangeiro buscará prêmios de risco maiores em outros lugares, impactando no câmbio, o que por sua vez impactará na inflação”, compara Jadye Lima, economista na WIT Invest.

Marco fiscal 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não confirmou, durante entrevista, mudanças ou permanência da meta de zerar o déficit público já para 2024. O cenário pode ser considerado de incerteza e pode também afetar decisões futuras do Comitê de Política Monetária.

“Incertezas fiscais voltaram à tona com as idas e vindas do governo a respeito da meta de déficit para o próximo ano. Havia expectativa de que o deficit aprovado no orçamento seria zero, mas a movimentação politica torna esse cenário mais difícil, colocando em dúvida o próprio arcabouço fiscal recém aprovado. Isso tem pressionado as expectativas e tornado as projeções para os próximos passos mais complicadas”, defende Nogueira.

Roncaglia argumenta que, dada o histórico de argumentos do Copom, inclusive suas justificativas em atas, a discussão sobre as metas de contas públicas podem ficar no radar.

“É possível que o Copom também volte a tratar dessa questão da estabilidade da dívida, o que na minha visão é infundado, porque não houve qualquer mudança profunda em termos de expectativas de mercado, o prisma fiscal já indica que o mercado vai prever um déficit de 308% e 1% para 2024, muito embora o Ministério da Fazenda e a equipe econômica estejam ali na luta para tentar fechar esse déficit”, finaliza.

O FED deve anunciar o novo patamar de juros as 15h (horário de Brasília); já o anuncio do Copom ocorre a partir das 18h.