As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) começam nesta terça-feira, e os integrantes do Banco Central devem bater o martelo sobre a taxa básica de juros na ‘super-quarta’. O cenário brasileiro fica de olho na crise bancária mundial, após a quebra do Silicon Valley Bank e corrida dos BCs mundiais para ajudar bancos com o fluxo de caixa. Os analistas brasileiros, no entanto, sugerem que o cenário externo não tem tanto impacto local e apostam na manutenção da taxa básica a 13,75.

O que deixaria o governo irritado, já que vem movimentando esforços para a queda da Selic, especialmente com a aproximação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Para o governo, a queda da Selic é fundamental para movimentar a economia e chegar a um PIB razoável ao fim do ano.

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Apesar das pressões do governo federal sobre o Banco Central para a queda dos juros, a expectativa para a taxa Selic se manteve estável para o fim de 2023, 2024, 2025 e aumentou para 2026 no Boletim Focus do BC. De acordo com Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, o Copom terá dificuldades de reduzir a taxa de juros este ano. 

“O Banco Central tem uma meta de inflação a cumprir, que é de 3,25% em 2023 e 3% em 2024-2025, porém as expectativas inflacionárias seguem acima da meta. Tanto o Focus quanto os modelos do Bacen estão com expectativas inflacionárias acima da meta para os próximos 2 anos; ou seja, para atingir o centro da meta, o Copom deverá manter a Selic inalterada pelo menos até o final de 2023″, explica o executivo. 

Taxa de juros em 13,75%

Renan Pieri, professor de Economia da FGV EAESP, acredita que existe uma pressão em cima do BC para segurar a Selic. “Nas últimas semanas, houve aumento da expectativa de inflação, que poderia provocar aumento da taxa de juros. Ao mesmo tempo, o juros real está alto, tendo uma redução da moeda na economia. Pode haver uma sinalização na ata do Copom de que poderá reduzir futuramente a taxa”, defende.

Assim, a expectativa é de que o Copom decida por manter a Selic em 13,75%.

“Não vejo risco de inflação descontrolada. Os movimentos que estamos vendo no setor bancário global e a aversão ao risco produzem efeitos que desaquecem a economia; isso atua para desacelerar a inflação, abre espaço para o Copom antecipar a política monetária expansionista e reduzir a Selic antes que o planejado na reunião anterior. De qualquer maneira, não devem reduzir agora, mas há um cenário mais benigno para uma redução da taxa de juros”, avalia Gustavo Moreira, coordenador dos MBAs em Finanças do Ibmec RJ

Ele ainda destaque que, por trás de uma redução da Selic, está um ambiente com expectativa de inflação devidamente fixada e uma âncora fiscal adequada e exequível.

“Campos Neto é independente. Inclusive, não é ele quem decide, e sim o Comitê que inclui o presidente e os diretores do BC. Suas decisões devem ser técnicas, baseadas nas expectativas de inflação, o balanço de riscos e a atividade econômica. Eles podem receber inputs, mas seus mandatos são para garantir a estabilidade da moeda, não para agradar o executivo”, acrescenta.

Há risco de superinflação?

A hiperinflação é um aumento extremamente rápido no nível geral de preços de bens e serviços. Ocorre quando a inflação está alta e descontrolada.

“Neste ambiente, os preços estão continuamente subindo. Os indivíduos não sabem o preço dos bens e serviços. Esta situação gera incerteza, alocação de recursos ineficiente e prejudica o crescimento do PIB. Não estamos vivendo neste ambiente, tampouco existem sinais que enfrentaremos isso”, finaliza o professor do Ibmec RJ.

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