19/02/2025 - 17:42
O grupo de supermercados St Marche, voltado à alta renda, entrou nesta semana com um pedido na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo para renegociar dívidas que somam R$ 639 milhões. O juiz Jomar Juarez Amorim aceitou parte do pedido, suspendendo execuções por 60 dias, com o alerta de que o prazo é improrrogável.
Em nota, o St Marche diz que “está avaliando alternativas para melhorar sua saúde financeira e seguir crescendo de forma sustentável” e que “segue operando normalmente”.
No pedido ao juiz, o St Marche destaca uma situação financeira complicada, em que o caixa da empresa ficou negativo em R$ 10 milhões em janeiro.
Foram R$ 94 milhões em faturamento no mês passado, enquanto as dívidas a pagar no período somaram R$ 103 milhões.
A rede de supermercados afirma que, sem a ação judicial, não conseguiria mais operar, pois toda sua receita seria para pagar dívidas, que cresceram devido à elevação dos juros.
Nos últimos dias, a situação se agravou.
Os credores do fundo Quatá Plus declararam o vencimento antecipado de obrigação no valor de R$ 8,25 milhões, em razão de protestos de títulos sofridos pela holding Hortus.
O St Marche afirma que também teve dificuldades em evitar que o fundo Alternative Assets, do BTG, declarasse o vencimento antecipado de debêntures.
Houve ainda descumprimento de covenant (compromissos de contratos que servem para proteger os credores) financeiro assumido pelo grupo com o Alternative Assets I, que desencadearia a “iminente declaração de vencimento antecipado” de R$ 275 milhões, garantidos pelas ações da holding do grupo.
A empresa ressalta ainda ter R$ 42 milhões em aberto com fornecedores, ou seja, em valores a pagar.
O St Marche afirma que “tem enfrentado severa crise financeira, em especial em virtude da situação macroeconômica do Brasil e os sucessivos aumentos da taxa de juros, que hoje é refletida no relevante endividamento” do grupo, conforme a petição inicial, de 41 páginas, obtida pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
“Concedo em parte a tutela de urgência cautelar, apenas para determinar a suspensão de execuções contra as requerentes”, escreve o juiz em sua decisão, ressaltando que a medida está restrita a créditos sujeitos a recuperação judicial, pelo “prazo improrrogável de 60 dias”.
Antes de entrar na Justiça, a rede de supermercados abriu, no último dia 16, procedimento de mediação na Câmara Especial de Resolução de Conflitos Empresariais, para renegociação das dívidas com os credores financeiros.
Como se formou a crise financeira
Como parte de uma estratégia para atender uma fase de “franco” crescimento do varejo no período da pandemia, a rede diz ter investido R$ 120 milhões para acelerar a abertura de novas lojas. O número de unidades saltou de 21 para 33, entre meados de 2021 e agosto de 2023.
Um dos caminhos para financiar essa expansão era a abertura de capital na Bolsa, processo iniciado em 2021 mas interrompido pela mudança do cenário da economia, com a elevação dos juros.
Sem conseguir levantar os recursos por meio da oferta de ações, a empresa recorreu a linhas de financiamento com bancos e à emissão de dívida para investidores. Com o avanço na taxa de juros, as obrigações contratadas ficaram mais pesadas e impactaram a saúde financeira do grupo.
O aumento dos custos financeiros se deu num período em que as novas lojas ainda não haviam alcançado a maturidade. A companhia estima que as unidades acrescentadas só contribuirão positivamente para o resultado em 2027.
Como consequência, veio a decisão de interromper o processo de aberturas no fim de 2023, o que implicou mais custos por contratos não honrados com imóveis já selecionados.
O grupo St. Marche foi fundado em 2002, na cidade de São Paulo, e tem hoje 33 lojas.
Em 2024, a rede faturou R$ 1,32 bilhão, ante R$ 724 milhões em 2019, segundo informou a rede à Justiça. A companhia tem entre os sócios o fundo americano L Catterton, que ingressou no negócio em 2016 e que, segundo pessoas a par das negociações, está interessado em vender a participação.
O que diz o St Marche em comunicado
“Em nosso esforço contínuo para oferecer a melhor experiência de compra a nossos clientes e sermos os melhores parceiros para nossos colaboradores e fornecedores, o St. Marche está avaliando alternativas para melhorar sua saúde financeira e seguir crescendo de forma sustentável. Como parte desse processo, apresentamos um pedido de Tutela Cautelar de Urgência, para podermos focar em um plano de reestruturação de nossas dívidas financeiras em um ambiente mais estável. Essa medida não afeta nossas obrigações com fornecedores, clientes e colaboradores. O St. Marche segue operando normalmente. Esta e qualquer outra decisão que o Marche venha a tomar será pautada pelos melhores interesses de nossos fornecedores, clientes e colaboradores.”