12/12/2022 - 19:51
O líbio acusado de fabricar a bomba que explodiu um voo da Pan Am sobre a Escócia em 1988, matando 270 pessoas, compareceu nesta segunda-feira (12) a um tribunal federal dos Estados Unidos, onde foi acusado de “destruir uma aeronave resultando em morte”.
Abu Agila Mohammad Massoud, que teria atuado como agente de inteligência do regime líbio de Muamar Kadhafi, recebeu três acusações relacionadas com o atentado na cidade de Lockerbie, no sudoeste da Escócia, no qual a maioria das vítimas era americana.
Os promotores federais disseram que não pretendiam buscar a pena de morte para o réu, que, no entanto, poderá pegar prisão perpétua se for considerado culpado das acusações.
O juiz leu para Massoud as acusações e seus direitos, antes de determinar a prisão preventiva sem fiança até uma nova audiência, em 27 de dezembro.
O réu teve direito a um intérprete de árabe para participar da audiência, sua primeira aparição em um tribunal americano desde que foi trazido ao país.
No domingo (11), a Justiça escocesa informou que Massoud estava em mãos americanas, mas não deu detalhes sobre como ele havia sido transferido para a custódia dos Estados Unidos.
Ao que tudo indica, Massoud estava detido na Líbia por suposto envolvimento em atentados contra nomes da oposição líbia em 2011.
Até agora, apenas uma pessoa foi condenada pelo atentado contra o voo 103 da Pan Am em 21 de dezembro de 1988, que, ainda hoje, continua sendo o ataque terrorista mais mortal já registrado em solo britânico.
O explosivo foi detonado 38 minutos depois da decolagem em Londres, e boa parte da fuselagem caiu sobre a cidade escocesa de Lockerbie, se espalhando por uma grande área. A explosão matou 259 pessoas a bordo, entre elas 190 americanos, e 11 pessoas em terra.
Dois líbios, Abdelbaset Ali Mohmet al-Megrahi, ex-agente de inteligência, e Al Amin Khalifa Fhimah, foram acusados pelo atentado e julgados na Holanda.
Megrahi passou sete anos em uma prisão escocesa após sua condenação em 2001, enquanto Fhimah foi absolvido.
Megrahi morreu na Líbia em 2012, e sempre insistiu que era inocente. Sua família apresentou um recurso póstumo para limpar seu nome em 2017, mas o Tribunal Superior da Escócia confirmou a condenação em 2021.
– Agradecimento de Kadhafi –
O destino de Massoud esteve ligado ao sectarismo beligerante da política líbia.
Um artigo publicado em 2015 na revista The New Yorker indica que Massoud havia sido condenado a 10 anos de prisão na Líbia, acusado de utilizar bombas contra membros da oposição em 2011.
A investigação de Lockerbie foi reaberta em 2016, quando Washington soube da detenção de Massoud, após a queda e morte de Kadhafi em 2011, e sua suposta confissão de envolvimento ao novo regime líbio em 2012.
Segundo um depoimento feito sob juramento por um agente do FBI envolvido na investigação, Massoud trabalhou como “especialista técnico” para a Organização de Segurança Externa da Líbia. Ele fabricava artefatos explosivos e chegou à patente de coronel.
Em setembro de 2012, em um interrogatório com um funcionário líbio, confessou ter armado a bomba que destruiu o avião da Pan Am, segundo o depoimento feito sob juramento.
“Massoud confirmou que a operação com bomba do voo 103 da Pan Am foi ordenada pela direção do serviço de inteligência da Líbia”, afirma.
“Massoud confirmou que, depois da operação, Kadhafi agradeceu a ele e a outros membros da equipe o ataque bem-sucedido contra os Estados Unidos”.
Segundo o depoimento do agente do FBI, Massoud também admitiu ter cometido o atentado com bomba contra a discoteca LaBelle, em Berlim, que matou dois soldados americanos e uma mulher turca.
Após a notícia da prisão de Massoud, as famílias das vítimas de Lockerbie agradeceram às autoridades americanas e britânicas.
“Nossos entes queridos jamais serão esquecidos. Os responsáveis por seu assassinato em 21 de dezembro de 1988 devem enfrentar a Justiça”, disseram os parentes em nota.