Apontado como um dos líderes da maior milícia que atua no Rio de Janeiro, Peterson Luiz de Almeida, conhecido como Pet ou Flamengo, saiu pela porta da frente do Presídio José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, no domingo, 29. A soltura aconteceu mesmo que ele tivesse mandado de prisão decretado pela Justiça. Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) afirma não ter sido notificada pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ).

Pet é considerado um dos homens mais próximos de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, principal chefe da maior milícia do Rio e que está diretamente ligado à onda de violência que assola a zona oeste da cidade. Preso em 30 de agosto acusado pelos crimes de milícia privada e comércio ilegal de arma de fogo, ele estava detido temporariamente em Benfica, que é a porta de entrada do sistema prisional carioca.

Em 26 de outubro, a Justiça do Rio acatou pedido o Ministério Público do Estado (MPRJ) e transformou a prisão temporária em preventiva. A Seap, contudo, alega que não foi informada sobre a decisão.

“Ao contrário do que foi noticiado, a secretaria não foi notificada por meios oficiais a respeito da conversão da prisão do citado de temporária para preventiva, estando de posse de documentos que comprovam essa afirmação, incluindo um nada consta emitido pela Polícia Civil no último dia 29 de outubro e consulta à tela do BNMP/CNJ – a qual segue, até as 21h desta segunda-feira (30/10), sem sinalizar a citada decisão -, o que comprova que no momento da soltura não havia registro do pedido de conversão na Central de Mandados”, sustentou a Seap nesta terça-feira, 31. BNMP/CNJ é o Banco Nacional de Mandados de Prisão, vinculado ao Conselho Nacional de Justiça.

Além disso, a Seap sustenta que informou previamente à Justiça do Rio sobre a necessidade de conversão da prisão temporária de Pet em preventiva “tendo em vista o seu histórico e a relação com o grupo responsável pelos episódios recentes de violência na cidade”.

“Na noite desta segunda-feira (30/10), a Justiça informou à Seap que o comunicado citado teria sido enviado para um endereço de e-mail que está desativado há cinco anos, apesar de a Seap ter estabelecido, desde então, comunicação com a 1.ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa da Capital pelo uso de outros endereços de e-mail oficiais”, acrescenta a nota.

Questionado sobre a soltura do miliciano, o TJRJ declarou apenas que “a informação passada pela Seap ao oficial de Justiça que foi intimá-lo da prisão preventiva é de que o acusado foi posto em liberdade no dia 29/10?, sem qualquer outro detalhe.

O Estadão não localizou a defesa de Peterson Luiz de Almeida.

Confronto entre grupos rivais aumentou crise de segurança na zona oeste

Na semana passada, pelo menos 35 ônibus foram incendiados por um grupo de milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Rezende, que era conhecido como Faustão ou Teteu. Ele foi morto durante confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste carioca.

Rezende era sobrinho de Zinho, que desde 2021 comanda a maior milícia do Rio. Ele também era considerado o número 2 na hierarquia do grupo criminoso.

Zinho assumiu o comando após a morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko. A sucessão na liderança, contudo, dividiu o grupo e deu início a uma disputa sangrenta, aumentando os índices de violência na zona oeste carioca. Dados do Instituto Fogo Cruzado mostram que o número de tiroteios aumentou 55% este ano. Já o de chacinas saltou de 4 para 14, o que representa um aumento de 250%.