06/03/2002 - 7:00
A cada trimestre, os acionistas do Playcenter sentem arrepios na barriga. E não porque estejam se aventurando pela montanha-russa do parque temático instalado em São Paulo. É pelo simples fato de estarem recebendo os balanços da holding. Desde 1999, a companhia ? que já foi a maior no segmento de entretenimento da América Latina, com três parques de diversão, 25 centros de recreação em shoppings, rede de boliches e concessionárias de alimentos e bebidas no Brasil e Argentina ? está afundada no vermelho. E pior: corre o risco de ter suas contas bancárias e parte dos bens penhorados em ação movida por uma credora. A saída foi convocar uma assembléia geral extraordinária, na sexta-feira 22. Na ata da reunião, à qual a DINHEIRO teve acesso, os executivos lançaram mão da última estratégia que pretende ser o passaporte da alegria para acionistas: entregar ativos do Playcenter em troca do perdão de dívidas que chegam a R$ 111 milhões.
A primeira medida assinada pelos executivos foi a cisão na holding Playcenter. A partir de agora, cada unidade de negócio responderá por uma empresa independente: o parque Playcenter de São Paulo; o Hopi Hari, em Vinhedo (SP), no qual o grupo tem 44,5% das ações, e, por fim, a Playland, com 21 parques instalados em shoppings. O detalhe jurídico tem um objetivo claro. A agora independente Playland ? que faturou R$ 26,7 milhões até setembro de 2001 ? foi constituída com opção de venda para um dos credores, a Ades Investimentos e Participações. Ou seja: foi criada para ser entregue como parte das dívidas. Se concretizado, o repasse anula um processo judicial que corre na 17ª Vara Cível de São Paulo. O Playcenter deve US$ 7,6 milhões à Ades e, se não pagasse as dívidas, teria 20% de seus bens penhorados. Além disso, o Playcenter de Recife ? que respondia por 4,31% do faturamento ? foi vendido para a empresa Mirabilândia. Mas nenhum centavo dos US$ 965 mil da transação irá parar nas contas do Playcenter. O parque será simplesmente trocado pela dívida que a holding tinha com a companhia do Nordeste.
Na mira da CVM. O movimento radical não surpreendeu o mercado. ?O Playcenter é uma máquina de perder dinheiro?, diz Carlos Antônio Magalhães da R. Sirotsky, uma consultoria de empresas de capital aberto. ?Agora que os acionistas não querem mais colocar dinheiro, eles terão que se desfazer de vários ativos.? É uma boa resposta frente ao último balanço. Publicado em setembro de 2001, o documento mostrava prejuízos da ordem de R$ 65,7 milhões ? contra receita de R$ 42,3 milhões. Quem se assustou com a notícia foi a CVM, xerife que regula o mercado de capitais brasileiro. O órgão afirma que não recebe notícias do Playcenter há mais de seis meses. Informada das alterações pela DINHEIRO, na quarta-feira 27, enviou um ofício à holding pedindo explicações.
Procurados pela DINHEIRO, por duas semanas, os executivos e acionistas do Playcenter não quiseram se pronunciar. Segundo o departamento de comunicação da holding, as medidas visam apenas a ajustar a capacidade de geração de caixa à dívida. Desde 1998, quando iniciou a construção do Hopi Hari, os números não fecham. Naquele ano, o lucro operacional da holding (Ebitda) era de R$ 12 milhões. Só para se ter uma idéia, a companhia fechou o primeiro semestre de 2001 com lucro operacional de R$ 1 milhão. O Playcenter, no entanto, informa que vem melhorando sua performance desde agosto de 2000, quando o banco Fator Doria foi convocado para reestruturar as operações. Mas continua em busca de um parceiro estratégico que invista R$ 30 milhões na companhia. Especula-se que o Parque do Gugu e Banco Itaú teriam interesse. Hoje, fundos do GP detêm 87% do Playcenter e os outros 13% estão pulverizados entre minoritários e a família Gutglas, que fundou o Playcenter em 1975. Para continuar sendo o mais antigo parque do Brasil, falta somente encontrar um comprador.