O legado de Leon Feffer foi ter fundado o grupo Suzano. Seu filho, Max, mudou a história da indústria de papel no Brasil ao introduzir a celulose a partir do eucalipto. A decisão trouxe um ganho competitivo sem precedentes, afinal a planta cresce em apenas incríveis sete anos no País, ao contrário do pinus, a outra matéria-prima, que leva pelo menos duas décadas para alcançar o ponto de corte na Europa. Agora, resta saber como a terceira geração do conglomerado, fundado há 80 anos e que fatura ao redor de R$ 2,7 bilhões, ficará conhecida. O mercado espera algo pomposo, pois David e Daniel Feffer, filhos de Max, têm a chance de mudar o patamar do grupo se autorizarem o maior investimento de todos os tempos da empresa: US$ 1,2 bilhão em Mucuri (BA) para triplicar sua capacidade de exportação.

Pequeno município localizado no sul da Bahia, Mucuri é o paraíso do eucalipto. Lá, a árvore cresce mais rápido e produz mais celulose, o que configura o cenário ideal para receber essa montanha de recursos. A Suzano sabe disso. Tanto que travou uma batalha em 2001 para comprar ? e comprou ? os 50% de participação que a Vale do Rio Doce tinha na Bahia Sul. A outra metade pertencia a própria Suzano, que agora não poupa esforços para acrescentar 1 milhão de toneladas de celulose às 600 mil que já produz em Mucuri. O sinal verde é iminente para o investimento. O projeto está na pauta do conselho de administração do grupo, que deverá autorizá-lo ainda no último trimestre de 2004. A meta é começar as obras no início de 2005 e concluí-las até 2006.

Murilo Passos, diretor-superintendente da Suzano Bahia Sul, é taxativo: ?Será uma outra empresa. Hoje exportamos 350 mil toneladas de celulose. Depois do investimento, esse volume subirá para 1,4 milhão de toneladas.? Tem mais. O impacto dessa bolada será sentido pelas máquinas do grupo. Se em 2003 a empresa fabricou 1,2 milhão de toneladas de papel e celulose, a projeção para 2007 aponta para uma capacidade de 2,25 milhões de toneladas.

Mas para que tudo funcione como um relógio, o grupo precisa investir pesado na formação de florestas de eucalipto. Dos US$ 1,2 bilhão, a empresa está desembolsando US$ 200 milhões ? US$ 100 milhões já foram aplicados ? para compor os estoques de madeira. Serão 160 mil hectares a mais. A estratégia libera o bilhão restante para a aquisição de máquinas. Desse montante, 40% deverá sair do cofre do conglomerado da família Feffer. Os 60% restantes virão do BNDES e de bancos que financiam a compra de máquinas. E como toda a produção irá para o exterior, o que garante receita em dólares, fica mais fácil conseguir qualquer empréstimo fora do Brasil.

O mercado, no entanto, tem suas ressalvas. ?O projeto vai entrar em operação atrasado, porque se ele já estivesse em funcionamento a companhia poderia pegar o atual bom preço da tonelada de celulose no exterior?, diz Fabio Alperowitch, analista da Fama Corretora. Mas ele faz questão de lembrar que a expansão trará bons frutos, independentemente do momento, porque o Brasil é extremamente competitivo nesse mercado. De fato. Produzir uma tonelada em Mucuri custa US$ 150, contra a média de US$ 300 na Europa. Essa diferença, além de possibilitar roubar mercado em um cenário de estagnação da economia, permite ganhar dinheiro mesmo quando o preço oscila no mercado internacional. Hoje, a celulose é negociada a bons US$ 560, mas num passado recente, era vendida por US$ 400. ?Não há escolha para Suzano. Para ser competitiva, ela terá que investir?, diz Clarissa Saldanha, analista do Banco Brascan. Pelo jeito, os acionistas concordam, apesar de ainda faltar o preto no branco do papel da Suzano.

US$ 1.000.000.000 serão gastos para construir uma nova fábrica em Mucuri, onde o eucalipto cresce mais rápido e tem custo 50% menor que na Europa