12/06/2002 - 7:00
Nos anos 80, qualquer relojoeiro suíço definiria Nicolas Hayek como um ?sujeito louco, capaz de afundar a indústria de relógios do país com suas idéias de produção em larga escala?. Hoje, Hayek é tido pelos mesmos críticos como o salvador da pátria. Vamos à história. Nicolas G. Hayek, fundador e atual presidente mundial da Swatch Group, quase foi excomungado quando apresentou ao mercado um relógio de plástico, colorido e infinitamente mais barato do que os produtos feitos em seu país. A ?nação dos relógios? considerou aquilo um acinte, quase um atentado à tradicional indústria local. O que os suíços não quiseram admitir é que enquanto eles insistiam em fazer manual e minuciosamente os relógios mecânicos (alguns levavam três meses para serem montados) os japoneses invadiam o mundo com a fabricação em série, custos baixos e produtos populares. Segredo japonês: o quartzo, capaz de substituir com precisão milhares de peças minúsculas que até então formavam o ?motor? dos relógios. Os suíços deram de ombros ao quartzo. Acreditavam que o método convencional, com todas aquelas engrenagens artesanalmente trabalhadas, fosse o passado, o presente e o futuro. O resultado foi desastroso: as indústrias locais demitiram 80% de seus funcionários enquanto fabricantes asiáticos como Seiko e Citizen ganhavam o mundo. Hayek, então um consultor de empresas, foi chamado às pressas para encontrar uma solução para os dois maiores produtores da época: Asuag e SSIH. Decidiu fundi-los, incorporou as técnicas japonesas de produção e criou o embrião da Swatch, a SMH. Ficou com ela e hoje é dono de uma empresa que atua em mais de 40 países, fatura US$ 2,6 bilhões, tem 160 centros de produção pelo mundo ? Brasil inclusive ? e faz relógios para todos os bolsos e gostos, capazes de agradar até japoneses e suíços.
Hayek, na época, declarou aos conterrâneos: ?Primeiro será preciso recuperar nossa indústria. Depois, nossa fama?. A partir daí combinou o prestígio e a confiabilidade do relógio suíço com processos extremamente automatizados. Também mexeu no sistema de distribuição dos produtos, levando-os as joalherias para lojas de departamento. Bingo! O Swatch Group se transformou na maior empresa do setor, com uma produção anual de 114 milhões de unidades, ou 25% do volume fabricado no mundo. O fundador jamais parou de inovar. Além de relógios, a companhia atua no setor automotivo, fornecendo componentes eletrônicos e sistemas para carros elétricos, além de circuitos de controle para painéis de veículos. A divisão automotiva, por exemplo, foi a autora de um projeto de carro híbrido que deu origem ao Smart, da Mercedes-Benz. Outra área, a de microeletrônica, fornece peças para a indústria de telecomunicações. ?Mesmo hoje, aos 73 anos, Hayek continua buscando novas oportunidades?, diz Ettiene Dutoit, presidente da filial brasileira.
A novidade do momento é uma coleção de jóias das marcas Breguet, Omega e Swatch ? três das 17 grifes de relógios do grupo. Segundo Dutoit, a matriz quis aproveitar uma tendência que existe em vários países: a oferta de jóias e relógios em um mesmo ponto de vendas. A estréia das pulseiras, colares e anéis do Swatch Group nas vitrines européias animaram os executivos da empresa. ?Num futuro breve, poderemos ter estes produtos no Brasil?, afirma Dutoit. O executivo assumiu em fevereiro a presidência da filial brasileira e promete seguir a filosofia Hayek. Vai ampliar a fábrica de Manaus para trazer novas divisões como a Endura, responsável pela fabricação de relógios para terceiros. A Endura produz principalmente para joalherias e grandes empresas, que colocam seus logotipos no mostrador. ?É um mercado promissor?, garante Dutoit. Outra novidade será a introdução de lojas próprias, como a Swatch Store (as unidades que existem hoje no Brasil pertencem a terceiros). Atualmente, o grupo tem dez marcas de relógios no País. Além de Tissot e Mido, montados em Manaus, compõem o portfólio grifes como Swatch, Breguet, Omega, Longines, Rado, Calvin Klein e Flik Flak. A empresa é a terceira do ranking. De acordo com Dutoit, as taxas de importação ainda são muito elevadas (67% para relógios de aço e 77% para os de ouro), o que emperra um crescimento maior da filial. A operação, admite ele, ainda não é lucrativa. ?Mas eu acredito que algum dia teremos por aqui taxas menores?, diz Dutoit. ?Se isso acontecer, triplicaremos as vendas no País.?
Hayek torce para que Dutoit, um dos responsáveis pelo sucesso dos relógios Calvin Klein na Suíça, também obtenha êxito no Brasil. Vez ou outra, o fundador surpreende os dirigentes das filiais com telefonemas inesperados. Sempre quer saber do desempenho de suas coligadas e faz isso até quando está em férias. ?Ele é incansável?, revela Dutoit. Hayek trabalha 18 horas por dia e não se importa em enfrentar 150 quilômetros de estrada, distância entre sua mansão em Zurique e a sede da Swatch, em Biel. Faz questão de dirigir sua Mercedes S500 e é tido como um autêntico ?pé-de-chumbo?. Guiar é um de seus prazeres, assim como acender um bom charuto cubano e colecionar suspensórios. Hayek também não abandonou uma mania que já virou marca registrada: usar quatro relógios ao mesmo tempo, dois em cada pulso. Houve época em que usava oito swatches nos braços. O dono da maior empresa de relógios do mundo, pelo visto, não gosta de perder tempo.