21/09/2011 - 21:00
É grande a expectativa em torno da reunião dos Brics, em Washington, na quinta-feira 22. Buscando demonstrar o novo patamar alcançado no cenário mundial, Brasil e China anunciaram a intenção de ajudar no financiamento de países europeus em dificuldades. A reunião dos Brics, que ocorrerá em meio ao encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, deve procurar definir uma ação coordenada com a Índia, Rússia e África do Sul. O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, com um certo exagero, procurou configurar a iniciativa como a tábua de salvação da Europa. “Discutiremos o que fazer para ajudar a União Europeia a sair dessa situação.” A principal alternativa é usar parte das reservas internacionais para a compra de títulos públicos em euros.
Como não podia deixar de ser, o fiel da balança é a China, capaz de realmente influir nos destinos da crise com suas gigantescas reservas de US$ 3,2 trilhões, quase dez vezes superiores às do Brasil. O simples rumor de que a China estava negociando com a Itália a compra de títulos públicos acalmou os mercados de dívida europeus na semana passada. O anúncio de Mantega foi visto com algum ceticismo, dado o histórico de dificuldades de coordenação entre os Brics, que funcionam bem como uma sigla, mas costumam defender interesses muito diferentes. Além disso, há uma certa desconfiança de que a proposta não passe de jogo de cena. A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, deixou explícita essa desconfiança ao dizer que seria inócuo os países emergentes comprarem títulos europeus de baixo risco, como os da Alemanha ou da Grã-Bretanha, ressaltando que uma ajuda real seria a aquisição de papéis de países mais arriscados, como Portugal, Itália, Espanha ou Grécia.
As chances de o Brasil destinar parte de suas reservas em títulos de alto risco parecem pequenas, dada a estratégia de investimentos de baixo risco. Até hoje o País não comprou títulos de Portugal, apesar de promessas da presidente Dilma Rousseff. A China parece mais inclinada a ajudar, mas não sem antes cobrar a fatura. O primeiro-ministro, Wen Jiabao, apresentou uma lista de reivindicações aos países desenvolvidos que teriam de ser atendidas antes que a China mobilizasse seus trilhões de dólares em favor das nações em apuros. A primeira é a antecipação do reconhecimento da China como economia de mercado pela União Europeia, o que só está previsto para acontecer em 2016. “Essa é a maneira com que um amigo trata outro amigo”, disse Jiabao. Isso dificultaria a imposição de medidas antidumping pela Europa contra produtos chineses.
A oportunidade de ganhar força e voz no cenário internacional não é desprezível. Três anos depois da crise deflagrada pela quebra do banco americano Lehman Brothers, as economias desenvolvidas continuam em estado lastimável. Os emergentes, os únicos que conseguem manter taxas altas de crescimento, podem assumir um papel mais condizente com sua maior participação na economia mundial. Mas, é claro, ninguém defende que isso seja feito de graça, especialmente por países que sofreram em crises passadas, como o Brasil. A China parece ter escolhido a estratégia mais inteligente. Está disposta a realmente colocar dinheiro em risco, até porque depende muito da Europa para suas exportações. Mas sabe que este é o momento em que está com a faca e o queijo na mão para barganhar contrapartidas inéditas.