Corte na internet e em serviços de telefonia móvel afeta mais de 43 milhões de pessoas. Medida teria sido imposta para combater a “imoralidade”, mas não há confirmação oficial por parte das autoridades talibãs.O Afeganistão tem nesta terça-feira (30/09) um segundo dia de apagão geral nas telecomunicações, com a mídia local noticiando um possível corte nacional dos serviços de fibra ótica como parte da repressão do grupo fundamentalista islâmico Talibã à suposta “imoralidade”.

Na noite desta segunda-feira, o sinal de celular e o serviço de internet foram ficando gradualmente mais fracos em todo o país até a conectividade ficar abaixo de 1% dos níveis normais, de acordo com a organização de vigilância da internet Netblocks.

“Está atualmente em vigor um corte nacional das telecomunicações”, anunciou a Netblocks. Mais de 43 milhões de pessoas foram afetadas.

Não houve confirmação oficial do apagão por parte do governo do Talibã, que depende fortemente de aplicativos de mensagens e redes sociais para suas comunicações externas e internas.

Minutos antes do ocorrido, porém, um funcionário do governo alertou a agência de notícias AFP que a rede de fibra ótica seria cortada, afetando também os serviços de telefonia móvel. Ele acrescentou que a medida valeria até que haja uma nova ordem.

Combate à imoralidade

Autoridades talibãs começaram a restringir o acesso à internet no início de setembro, cortando as ligações em várias províncias, com a justificativa de combater a “imoralidade”. A medida, ordenada pelo líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, levou ao fim da internet de alta velocidade em várias regiões.

Em 16 de setembro, o governo da província de Balkh (norte) anunciou a proibição total da internet por fibra ótica no seu território. “Essa medida foi tomada para prevenir o vício e outras serão aplicadas em todo o país para responder às necessidades de conectividade”, comunicou.

Restrições semelhantes foram verificadas nas províncias de Badakhshan e Takhar (norte), bem como em Kandahar, Helmand, Nangarhar e Uruzgan (sul).

Interrupções também na telefonia

É a primeira vez que o Afeganistão sofre uma paralisação desse tipo desde que o Talibã retornou ao poder, em agosto de 2021, e passou a impor uma versão rígida da sharia, a lei islâmica.

As restrições impostas pela liderança do Talibã, sediada em Kandahar, estão se tornando cada vez mais severas. Este mês, as autoridades impediram que mulheres que trabalham para as Nações Unidas entrem nos escritórios da organização.

Em diversas ocasiões, autoridades do regime expressaram preocupação com a circulação de pornografia online e outros conteúdos que consideram contrários à sua interpretação da sharia.

as/cn (AFP, AP, Lusa, Reuters, Efe)