O executivo Marco Antônio Bologna, presidente da TAM, costuma dizer que todas as manhãs lembra com carinho de sua arqui-rival, a Gol. ?Rezo diariamente para que as ações dela continuem subindo na Bolsa de Valores?, afirma ele, em tom de brincadeira. Pode parecer declaração protocolar, daquelas que pretendem demonstrar respeito pela concorrência e pelo livre mercado. No caso de Bologna, no entanto, é mais do que isso. A boa performance dos papéis da Gol contribuirá decisivamente para o sucesso do mais arrojado movimento planejado para a TAM neste ano. Em poucos meses, a empresa fundada pelo lendário comandante Rolim Amaro voltará às bolsas de valores.

Nesse lance, Bologna espera arrecadar pelo menos R$ 400 milhões a R$ 450 milhões. O caminho para o dinheiro dos investidores passa por um aumento de capital, que não será acompanhado pelos atuais acionistas, a família Amaro, com 72%, e um fundo capitaneado pelo CSFB, com 26%. O restante está nos pregões, o que significa que a volta é quase uma estréia na Bolsa. Com esse lance, as atuais participações encolherão. Mas a família Amaro manterá o controle acionário. Há outras fontes onde essa dinheirama pode ser recolhida. Algum grupo de investimento, nacional ou estrangeiro, poderá se interessar por um pedaço do capital da TAM. Ou mesmo um banco de fomento como o BNDESpar. ?Mas os investidores institucionais, sobretudo os estrangeiros, estão em compasso de espera?, diz Bologna. Outra alternativa é receber os R$ 400 milhões do governo como indenização pelo congelamento das tarifas. O assunto, porém, está na Justiça. ?Por isso, o caminho natural, em minha opinião, é o mercado de capitais, se as atuais condições persistirem. Se recebermos a indenização, nosso preço nas Bolsas aumenta ainda mais?, diz ele.

Independentemente de onde venha, o dinheiro irá direto para o cofre da TAM. Segundo Bologna, as companhias aéreas devem manter disponível um volume de recursos equivalente a dois ou três faturamentos mensais. ?A TAM atualmente tem um, ou seja, cerca de R$ 450 milhões?, afirma ele. ?Nosso setor exige liquidez, pois é excessivamente volátil.? O dinheiro pode ter outros fins, como o próprio Bologna admite. ?Se necessário será direcionado para investimentos?, diz. E nesse caso é inevitável lembrar da Varig. Nos últimos três anos, a TAM tem aparecido como a mais forte opção para assumir o manche de sua maior concorrente. As duas já tentaram se fundir. Fracassaram. Depois operaram um sistema de compartilhamento de aeronaves. O Cade estrilou, e o acordo terminará ainda no primeiro semestre de 2005. Mas o namoro entre elas não foi enterrado. ?Nossa vocação é operar linhas aéreas. Estamos abertos a oportunidades?, diz Bologna, para avisar logo a seguir. ?Mas não vamos assumir as dívidas dos outros.?

O retorno aos pregões é sonho antigo da TAM. Para o mercado de aviação, porém, os três últimos anos estiveram mais para pesadelo. Somente em 2004, a travessia da crise foi concluída. Na próxima terça-feira 15, quando a TAM divulgar seu balanço, uma série de números vistosos virá a público. No ano passado, seu faturamento cresceu 23% em relação aos R$ 3,7 bilhões de 2003. O lucro deverá superar os R$ 500 milhões.

Trata-se do resultado de um profundo trabalho de reestruturação desenvolvido entre 2002 e 2004. Foi uma espécie de ?efeito Gol?. ?Perseguimos a redução de custos como uma religião?, conta Bologna. ?Queríamos nos aproximar das empresas low cost, embora saibamos que não atingiremos o nível delas, pois temos vantagens que elas não possuem, como mais rotas, o programa de fidelidade e mais estrutura na hora do embarque.? O primeiro passo foi criar um portal de reservas de passagem. Com isso, os agentes de viagem passaram a dispensar o GDS (Global Distribution System), que cobra em média US$ 5 por reserva de lugar das companhias aéreas. O e-TAM eliminou essa despesa. Hoje, 95% dos bilhetes são eletrônicos e 60% das reservas são realizadas pelo site da TAM. Para 2005, a meta é atingir o índice de 100%.

Ao mesmo tempo, foi criada uma vice-presidência de planejamento para revisar inteiramente a malha de cobertura da companhia. Uma das principais providências foi firmar parcerias com cinco operadoras regionais, como Pantanal e Ocean Air. Assim, o número de destinos atendidos saltou de 49 para 66. Assim, as aeronaves passaram a ficar mais tempo no ar. A média em 2004 bateu em 8,8 horas por dia, contra 6,7 horas no ano anterior. Na Gol, esse índice atinge 12 horas. ?Em 2005, vamos chegar às 10 horas por dia?, garante Bologna. A taxa de ocupação deu salto semelhante, de 54% para 66%. Um outro indicador resume a melhora nos custos da empresa. Em 2003, eles estavam 25% superiores aos da Gol. No ano passado, pouco abaixo de 10%.

Com a casa arrumada, a TAM parte para outros vôos (sem trocadilhos). Este ano, receberá cinco novas aeronaves A320 para o mercado interno. Outras duas unidades, modelos A330, também pousaram por aqui para atender rotas internacionais. Uma delas reforçará a linha São Paulo-Paris. A outra inaugurará uma rota externa, ainda a ser definida. ?Nossa meta é manter a liderança de mercado. Em 2004, pela primeira vez nos 28 anos de história, ficamos no topo do setor o ano inteiro, com uma média de 35% de participação. Pretendemos subir esse número para 40%?, revela Bologna. O dinheiro que virá das Bolsas certamente ajudará.