06/08/2025 - 0:01
As tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump entraram em vigor nesta quarta-feira, 6 de agosto, com uma série de exceções firmadas no decreto assinado pelo republicano na semana anterior – e sem sinalização de que o Brasil retaliará a medida, ao menos por ora.
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Conforme o decreto de Trump, as tarifas ao Brasil tiveram um aumento de 40 pontos percentuais sobre os 10% que já eram cobrados anteriormente, implicando então em uma alíquota de 50%.
A medida já havia sido anunciada no dia 9 de julho em uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) justificando medidas arbitrárias do Supremo Tribunal Federal (STF) e alegando uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mesmo citando Bolsonaro como um dos motivos, o tarifaço ainda tem como pano de fundo a articulação do Brasil para reduzir a influência do dólar no comércio internacional.
Apesar do patamar de 50% da alíquota, quando o presidente dos EUA assinou a ordem executiva, deixou uma série de itens fora da lista, incluindo produtos como castanhas, sucos, polpas, minério de ferro, combustível de aviação e equipamentos usados na aviação civil.
Em contrapartida, produtos como carne e café, que são relevantes na relação comercial entre os dois países, seguiram dentro da cobrança.
- Confira a lista completa de exceções das tarifas ao Brasil no documento oficial publicado pela Casa Branca.
Vale destacar que o republicano tem fechado acordos com diversas nações, então o panorama tem mudado quase que diariamente. Para verificar a situação em tempo real do tarifaço é possível acompanhar as principais notícias na IstoÉ Dinheiro, verificar fontes oficiais ou acessar plataformas que compilem os dados – como o Trump Tariff Tracker, do escritório de advocacia Reed Smith.
Governo brasileiro fará algo?
O governo brasileiro vinha estudando medidas para negociar o tarifaço com o governo americano, mas as conversas não avançaram como esperado pelo Palácio do Planalto.
As negociações foram conduzidas pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, que chegou a conversar com empresários e até com representantes da Casa Branca para encontrar alternativas para o tarifaço.
A última conversa entre Alckmin e representantes do governo americano aconteceu na terça-feira, 29, em uma reunião com as big techs. No encontro, o vice-presidente debateu a regulamentação das redes sociais e abriu possibilidade de usar o tema como moeda de troca para o tarifaço.
Nos bastidores, o governo federal chegou a cogitar aplicar a mesma alíquota sobre os Estados Unidos, mas empresários pedem moderação da cúpula petista sobre à reposta. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, chegou à ir aos Estados Unidos, mas não conseguiu se reunir com representantes do governo americano.
Membros do governo, que acompanham de perto a situação, afirmam que a cautela tem sido reforçada por conta do contexto político sensível em Washington.
O foco, agora, está em políticas voltadas ao apoio às exportações. Entre as possibilidades estudadas estão novas linhas de crédito e mudanças nos instrumentos de financiamento voltados para o comércio exterior. A prioridade é oferecer fôlego a empresas brasileiras que já enfrentam dificuldades para manter contratos e entregas.
Embora ainda estejam sobre a mesa, medidas com potencial de afetar empresas americanas são tratadas como alternativas a serem utilizadas apenas se as conversas com os EUA não avançarem. Entre as ações analisadas estão a suspensão de pagamentos relacionados a patentes farmacêuticas e direitos autorais ligados à indústria cultural, de acordo com fontes ligadas ao tema.
Outra proposta que chegou a ser considerada no passado, a criação de um tributo específico sobre grandes empresas de tecnologia com sede nos EUA, foi deixada de lado neste ano. A decisão teria sido influenciada pela intenção de evitar conflitos com a Casa Branca, especialmente antes da oficialização da tarifa inicial de 10%, imposta em abril.
Lula chegou a declarar que o Brasil poderia adotar medidas com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso para respaldar respostas a sanções comerciais. Apesar disso, nas semanas seguintes, esse discurso perdeu espaço, e o governo passou a adotar um tom mais moderado.
Veja a lista de exceções da tarifa de 50% ao Brasil
- Produtos já sujeitos a tarifas setoriais anteriores (Seção 232):
- ferro e aço (brutos e derivados)
- produtos de alumínio
- veículos de passageiros (sedãs, SUVs, minivans etc.) e caminhonetes
- peças de veículos de passageiros e caminhonetes
- produtos de cobre semiacabados e intensivos
- Produtos agrícolas e alimentícios:
- castanha‑do‑Brasil
- suco de laranja (congelado e não congelado) e polpa de laranja
- Aeronaves civis e componentes:
- aeronaves civis (aviões, helicópteros, drones, balões, planadores)
- motores de aeronaves (pistão, turbojato, turbopropulsor) e suas peças
- pneus aeronáuticos (novos, recauchutados, usados)
- trem de pouso e outras partes de aeronaves
- assentos para aeronaves
- instrumentos de navegação, rádios e radares para uso aeronáutico
- ampla gama de outros componentes destinados ao uso em aeronaves civis
- Produtos de energia e minerais:
- petróleo bruto, óleos e produtos de combustível derivados
- gás natural (liquefeito e gasoso)
- carvão e produtos relacionados (lignito, turfa, coque, alcatrão)
- energia elétrica
- minério de ferro e minério de estanho
- metal de silício e alumina metalúrgica (óxido de alumínio)
- mica bruta e pedra ornamental trabalhada
- Metais e produtos metálicos (geral):
- ferro-gusa não-ligado e ligas
- ferro-ligas, incluindo ferroníquel e ferroniobio
- resíduos, sucata, óxidos e cloretos de estanho
- Metais preciosos:
- prata em formato de barra (bullion) e dore
- ouro em barra (bullion) e dore
- Produtos de madeira e papel:
- polpa de madeira química e semichemical
- madeira tropical serrada ou em lascas
- papel e produtos de polpa de papel
- Produtos químicos e fertilizantes:
- diversos fertilizantes minerais ou químicos
- uma lista específica de produtos químicos industriais, incluindo hidróxido de potássio e certos hidrocarbonetos clorados
- Outras isenções gerais:
- doações destinadas a aliviar o sofrimento humano (por exemplo, alimentos, roupas, remédios)
- materiais informativos (publicações, filmes, música, obras de arte)
- corda para amarrar ou atar (binder ou baler twine) feita de fibras de sisal ou agave