A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre os produtos importados do Brasil passou a valer a partir de 6 de agosto. O mês de setembro foi o primeiro a ter um ciclo completo de 30 dias, de onde foi possível medir de forma mais clara o tamanho das consequências que a medida criada pelo presidente Donald Trump teve sobre as exportações brasileiras.

E o que se viu foi um impacto menor do que o esperado. De fato, a exportação de produtos brasileiros para os Estados Unidos caiu 20,3% em setembro, em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme dados da Amcham-Brasil.

“Produtos sujeitos às sobretaxas registraram uma retração de 26%, que pode se intensificar nos próximos meses. Nesse cenário, o avanço das negociações entre os dois governos será fundamental para reequilibrar o comércio bilateral”, afirma Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil.

Contudo, as vendas totais do Brasil ao exterior cresceram 7,2%, para US$ 30,53 bilhões em setembro, gerando um superávit de US$ 2,99 bilhões. Ou seja, mesmo com a sobretaxa de 50%, o Brasil teve o melhor mês de setembro para exportações da série histórica.

Um dos motivos para que o tarifaço de Trump tenha deixado apenas arranhões na economia brasileira, foi a capacidade das empresas em redirecionar suas exportações. E o alvo foram os países asiáticos. Para Singapura, por exemplo, houve um crescimento de 133%. Para a Índia, de 124%, de 80,6% para Bangladesh; 60,4% para as Filipinas e 14,9% para a China.

Mesmo com a tarifa de 50%, a indústria da carne bovina bateu recorde de exportação em setembro. O faturamento foi de US$ 1,92 bilhão e os embarques atingiram 373,8 mil toneladas em setembro, resultados que representam aumento, respectivamente, de 49% e de 17%, em comparação com igual mês de 2024, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

O mesmo aconteceu com o setor de suínos. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as exportações totalizaram 151,6 mil toneladas em setembro. Foi o maior volume mensal já registrado pelo setor, e supera em 25,9% o total exportado no mesmo período do ano passado. Em receita, as vendas também foram recordes, com crescimento de 29,9%, para US$ 368,4 milhões.

“A tendência é de continuidade da demanda, com o fechamento do ano com resultados recordes”, disse o presidente da ABPA, Ricardo Santin.

De modo geral, o agronegócio passou praticamente ileso, ainda que alguns produtos tenham sido bastante impactados. As exportações do setor foram as maiores para um mês de setembro. Foram exportados US$ 14,95 bilhões, alta de 6,1% na comparação com setembro de 2024. O setor respondeu por 49,0% de todas as exportações brasileiras no mês.

Setores mais impactados

Se bovinos e suínos não sentiram os efeitos do tarifaço, na indústria de frango o cenário foi diferente. Apesar de pequena, os volumes embarcados no mês passado recuaram 0,6% em comparação a setembro do ano passado, para 482,3 mil toneladas. Em receita, a queda foi de 10%, para US$ 857,9 milhões.

Na mesma linha, os exportadores de café viram suas exportações recuarem 18,4%, para 3,75 milhões de sacas. Em receita, a tendência foi a mesma: queda de 11,1% para US$ 1,369 bilhão.

“O declínio foi potencializado pelo tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano, Donald Trump, sobre os cafés do Brasil, que impactou fortemente os embarques aos EUA, que são o maior consumidor mundial e o principal importador do produto brasileiro”, disse o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira.

Os setores mais impactados pela sobretaxa de 50% foram aqueles que estão fora das commodities, como o de madeira, que tem visto seus estoques crescerem, juntamente com custos e demissões. Já são mais de 4 mil pessoas demitidas e a tentativa de direcionar para o mercado interno a maior parte da produção.

Situação semelhante vive o setor de aço e minério de ferro, segmentos que tinham nos Estados Unidos seu principal destino.

Ainda que a política de Trump tenha atingido alguns setores, no geral, a situação se mostrou menos crítica do que o esperado. No final das contas, o mais prejudicado com a estratégia foram os Estados Unidos, que sentiram uma alta nos preços internos e aumento da pressão na inflação.

Seja como for, Trump e o presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva deram sinais claros ao longo da semana que tudo caminha para uma volta ao normal.