As tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre exportações brasileiras a partir de 1º de agosto podem ter um impacto na receita da Embraer semelhante ao da crise da Covid-19, disse o presidente-executivo da companhia, Francisco Gomes Neto, nesta terça-feira, 15.

Neto disse em entrevista a jornalistas que as tarifas podem causar cancelamentos de pedidos, adiamentos de entregas e diminuição de investimentos, além de possíveis reduções na força de trabalho, gerando um custo adicional de cerca de US$ 9 milhões por avião exportado aos EUA.

Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da Embraer (Foto: Claudio Gatti) 

Os Estados Unidos são o principal mercado da Embraer, a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo atrás da Airbus e da Boeing, com clientes norte-americanos representando 45% do seu negócio de jatos comerciais e 70% de sua divisão de jatos executivos.

“Pela relevância que esse mercado tem… a gente estima que, se isso for para frente, nessa magnitude, vamos ter um impacto similar ao da Covid em termos de queda de receita da companhia”, disse Neto.

Ele acrescentou que as tarifas de 50% seriam praticamente um embargo comercial sobre os jatos comerciais, especialmente os modelos E1 da Embraer, tornando “inviáveis” as exportações para os EUA.

Ainda assim, o executivo afirmou que nenhum pedido foi cancelado até o momento.

As ações da Embraer, que chegaram a subir 3% mais cedo no dia, passaram a operar de forma volátil durante as declarações de Neto, devolvendo ganhos antes de voltarem a subir cerca de 1%.

Após o anúncio da tarifa de 50% ao Brasil na semana passada, as ações da Embraer desabaram mais de 8%. Os papéis da fabricante de aeronaves encerraram o pregão da quinta-feira, 11, em queda de 3,7%, a R$ 75,32, após serem negociados a R$ 71,63 na mínima do dia (-8,41%).

Analistas do Bradesco BBI afirmaram que a Embraer é, dentro da cobertura do setor de bens de capital, a empresa mais exposta às exportações para os EUA, com cerca de 60% da receita vinda da América do Norte.

Em nota a clientes, eles estimaram um impacto potencial de aproximadamente US$ 220 milhões no lucro antes de juros e impostos (Ebit) de 2025, cerca de 35% do total estimado para o ano. O prognóstico considera que a tarifa entre em vigor em agosto, o que limitaria o impacto a apenas uma parte do ano.

“Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultados do segundo trimestre, no dia 5 de agosto”, disse em nota. “A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”, acrescentou.

Analistas do JPMorgan estimaram um impacto potencial de cerca de 13% na receita da fabricante brasileira de aviões.

Marcelo Motta e Jonathan S. Koutras ponderaram que a previsão assume que todas as vendas do jato Praetor (cerca de 18% da receita) são para clientes dos EUA e que o jato comercial E175 (cerca de 9% da receita) também sofreria queda de demanda.

Eles destacaram que o impacto potencial de uma tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para os EUA varia entre os diferentes segmentos de negócios da Embraer.

Na aviação comercial, citaram, que respondeu por 35% da receita em 2024 e 12% do Ebit, os contratos da Embraer incluem cláusulas que permitem o repasse de tarifas de importação aos clientes.

Como ponto positivo, a equipe do JPMorgan lembrou que o jato E175, responsável por cerca de 9% da receita de 2024, totalmente fabricado no Brasil, não possui concorrente certificado, o que confere à Embraer forte poder de precificação.

Na família E2, acrescentaram que a empresa enfrenta concorrência do A220 da Airbus, mas não possui clientes nos EUA.

Quanto aos jatos executivos, Motta e Koutras citaram que a montagem final ocorre em Melbourne, Flórida — os Phenoms são 100% fabricados nos EUA, enquanto os Praetors têm entre 60% e 70% de conteúdo da América do Norte, principalmente dos EUA.

“No entanto, como partes do processo são fabricadas no Brasil, esse segmento é mais impactado pelas tarifas, o que pode pressionar as margens”, estimaram no relatório enviado aos clientes do banco.

“Segundo nossos cálculos, uma tarifa de 50% sobre essas peças representaria uma redução significativa nas margens, com impacto de até 15% no Ebit dos jatos executivos no pior cenário.”

Em defesa, esclareceram que a Embraer não possui vendas diretas para os EUA nesse segmento.

Em relação ao segmento de serviços e suporte, afirmaram que as peças importadas do Brasil para atender clientes nos EUA também podem ser impactadas.

“Assumindo que 25% da receita de serviços e suporte nos EUA seja representada por importações do Brasil, o impacto estimado seria de cerca de 5% no Ebit desse segmento”, calculam.