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Ratan Tata: Ele é o dono de um grupo que fatura US$ 17,5 bilhões ou 2,8% do PIB da Índia

 

 

Na Índia, as pessoas tomam chá Tata, temperam suas refeições com sal Tata, dirigem carros Tata, usam eletricidade fornecida pela Tata, respiram ar condicionado da Tata. Para telefonar, as redes são Tata. Ver as horas? Relógios Tata. Quando viajam, se hospedam em hotéis Tata. As obras de infra-estrutura indianas levam aço de que marca? Tata, claro. Todos os softwares do sistema de informática do governo são da Tata. Mesmo assim, Ratan Tata, presidente do maior conglomerado de empresas do país de Mahatma Gandhi, não está satisfeito. Ele quer o mundo. E está de olho no Brasil.

 

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Sumo: O utilitário da Tata Motors poderá ser montado em Betim (MG)

 

Sua primeira investida por aqui foi por meio da Tata Consultancy – o braço de tecnologia da informação do grupo. Conhecida como TCS Brasil, a Tata Consultancy está no Brasil desde 2002. Agora, surgem rumores de que a Tata Motors – a fabricante de automóveis do grupo – quer seguir a linha da Tata Consultancy e se instalar por aqui. A idéia é construir uma montadora em Betim, MG. O investimento, especula-se, seria superior a estratosféricos US$ 500 milhões, para colocar já em 2008 dois modelos no mercado brasileiro: um utilitário (o modelo Safari Dicor ou o Sumo) e um popular, ainda em projeto na Índia, que por lá deve custar apenas US$ 2,2 mil – ou seja: o carro mais barato do mundo.

 

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Parceria de peso: operação Marcopolo/Tata começa em 2007

 

“É concreto o interesse da empresa em abrir uma fábrica no País, especificamente em Betim”, afirma Elson Barros de Gomes Júnior, cônsul honorário da Índia em Belo Horizonte. Diretores da Tata Motors, segundo ele, já estiveram várias vezes em Minas Gerais, conversando com representantes da indústria de autopeças local e também com diretores da possível futura vizinha, a Fiat. A montadora italiana no Brasil não confirma os encontros. Mas a aproximação é provável. Isso porque desde maio, Ratan Tata foi aceito como membro do conselho consultivo da Fiat mundial. As duas montadoras também firmaram há poucos meses um acordo, pelo qual a rede distribuidora da Tata Motors irá vender carros Fiat na Índia, além de atuarem juntas no desenvolvimento de novos produtos. A parceria não têm reflexos para a subsidiária brasileira. Mas sem dúvida beneficiaria a Tata Motors caso a empresa realmente venha atuar por aqui. “Eles cogitaram comprar o prédio da desativada Mercedes-Benz em Juiz de Fora, mas colocamos a disposição da Tata um terreno de 1,2 milhão de metros quadrados”, disse à DINHEIRO o prefeito de Betim, Carlaile Pedrosa. A Tata Motors, por sua vez, é mais cautelosa. Não confirma, nem nega os planos. “Não comentamos nossas estratégias futuras”, afirma o diretor de comunicação corporativa da empresa, Debasis Ray. O mistério, segundo o cônsul, não vai durar muito: Ratan Tata, diz ele, deve vir ao Brasil nos próximos meses. Do alto de seus quase dois metros de altura e de seus 67 anos, Ratan Tata é conhecido mundialmente por ser o executivo que deu mobilidade ao grupo. Começou a trabalhar na empresa da família – fundada em 1868 – aos 25 anos, depois de se formar em Arquitetura. Em 1991, seu tio J.R.D Tata, o então CEO, lhe passou o cargo. Nos primeiros anos em que ocupou a cadeira de presidente, dedicou-se à reestruturação das empresa, sempre focado no enxugamento de uma estrutura “elefantesca”, hoje formada por 93 empresas atuantes em sete diferentes áreas de negócio: sistemas de comunicação, engenharia, materiais, serviços, energia, produtos químicos e para consumo. Com todo esse tamanho, Ratan Tata levou dez anos para concluir a reestruturação, que logo depois de finalizada começou a dar resultados. A Tata continua enorme, mas agora é mais esguia e rentável. Desde 2002, o grupo como um todo têm crescido 30% anualmente em receita. Tem 215 mil funcionários e alcançou no último exercício (2004-2005) um faturamento de US$ 17,5 bilhões – ou o equivalente a 2,8% do PIB indiano. Exporta para 140 países e tem operações em 40 nações fora da Índia. Resta saber, se o Brasil faz parte dos próximos passos desse grande elefante do mundo dos negócios.

 

Ônibus brasileiro na Índia
Marcopolo une-se à Tata e ergue, na Índia, sua maior fábrica no exterior. Serão US$ 44 milhões para produzir 7 mil unidades/ano

 
  

Com fábrica no Brasil ou não, é fato que as relações da Tata Group com o País estão ficando cada vez mais estreitas. Prova disso foi a joint venture firmada no início de maio, entre a Tata Motors e a brasileira Marcopolo. Juntas, as duas empresas irão erguer na Índia uma planta de US$ 44 milhões. Será a maior unidade da Marcopolo fora do País, com capacidade para produzir 7 mil ônibus rodoviários, urbanos, mínis e micros. “São inicialmente US$ 13,3 milhões, com 51% de participação da Tata e 49% da Marcopolo”, diz o diretor-geral da empresa brasileira, Rubens De La Rosa. Os outros US$ 30,7 bilhões, segundo ele, as duas companhias irão aportar no mercado.

As negociações começaram há pouco mais de um ano. Foi a Marcopolo, segundo De La Rosa, que procurou a Tata Motors, oferecendo o negócio. “A internacionalização faz parte de nossa estratégia”, diz o diretor da multinacional brasileira, que produz na Colômbia, África do Sul, Portugal, Rússia e México. O interesse na Índia é simples. Até hoje, o transporte, tanto de cargas quanto de pessoas, estava concentrado em vias férreas. Mas, devido ao grande crescimento econômico pelo qual passa o país, há uma malha rodoviária em construção. Uma das rodovias em obras – o Goldem Quadrilateral (quadrilátero de ouro), tem mais de 10 mil quilômetros de estradas interligando as quatro maiores cidades do país. “É esse mercado que queremos explorar”, diz De La Rosa, que espera retorno de US$ 98 milhões em 2008 ? o primeiro ano de operação da nova fábrica. Em cinco anos, serão US$ 395 milhões.