28/07/2025 - 6:00
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reúne-se nesta semana para uma nova decnisão sobre a taxa básica de juros, a Selic. O resultado será oficialmente divulgado na noite de quarta-feira, 30, porém analistas consultados pela IstoÉ Dinheiro afirmam em consenso que não haverá surpresas: a Selic deve ser mantida no atual patamar de 15% ao ano.
“A leitura predominante dos comunicados e atas tem sido a de ‘pausa técnica’, isto é, interromper o ciclo de aumentos para observar como os efeitos tardios deles impactam a inflação e a atividade econômica”, explica o planejador financeiro e especialista em investimentos Jeff Patzlaff.
Na ata de sua última reunião, realizada nos dias 17 e 18 de junho, o Copom destacou justamente o plano de “uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado”. Na ocasião, o BC promoveu a menor alta da Selic dos últimos meses, de 0,25 ponto percentual (p.p.).
Pouca coisa mudou no cenário desde então. “Os fatores no radar devem ser os mesmos dos últimos meses: a inflação fora da meta, fiscal mais frágil e não compatível com a política monetária, pressão na inflação de serviços e preocupação sobre as tarifas externas”, diz o estrategista-chefe da Davos Investimentos, Ricardo Pompermaier.
Inflação
Desde setembro de 2024, foram promovidas altas consecutivas na Selic sob justificativa de tentar frear a inflação do país. Os esforços foram insuficientes, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano acima do patamar almejado. No acumulado de 12 meses, manteve-se acima do teto da meta desde então.
As projeções reunidas pelo Boletim Focus, no entanto, mostram que o mercado financeiro passou a esperar uma desaceleração da inflação. Sua edição publicada no dia 21 de julho revisou para baixo as projeções do IPCA para 2025, de 5,17% para 5,10%. Foi a oitava semana consecutiva de melhora. Para 2026, a estimativa também cedeu, de 4,50% para 4,45%.
Tarifaço
Apesar de acreditarem em uma manutenção no patamar atual dos juros, os especialistas ouvidos pela reportagem apontam que a nova rodada de taxas estabelecidas por Donald Trump adicionam fatores extras de complexidade ao trabalho do Copom.
“O tarifaço do presidente americano está causando uma insegurança muito grande no mercado, não só do Brasil, mas do mundo”, afirma o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Odilon Guedes.
O presidente Trump anunciou tarifas nos Estados Unidos sobre as importações de diversos países. O Brasil recebeu a maior alíquota, de 50%. Foi também o único a receber uma motivação assumidamente política para a taxação: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro sob acusação de golpe de estado.
No curto prazo, Jeff Patzlaff acredita que a taxação contribui para uma desaceleração ainda mais acentuada na inflação. “Esse efeito, embora positivo no curtíssimo prazo, é transitório. Quando a situação internacional se estabilizar e os fluxos de exportação forem retomados, é provável que os preços desses alimentos voltem a subir, reacendendo a inflação”, diz.
Risco fiscal
A situação fiscal também seguirá como ponto de atenção para o Copom. “O Banco Central enviou um recado direto ao governo: cortes só serão possíveis com avanços mais concretos na frente fiscal. Na minha avaliação, as decisões foram assertivas”, afirma o economista da ZIIN Investimentos, Marcos Laplechade.
Nos últimos meses, o governo federal travou uma disputa com o Congresso enquanto tentava promover um ajuste fiscal através da ampliação de receitas, com mudanças nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Após uma tentativa do Parlamento de derrubar a medida, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que é competência do Executivo decidir sobre este imposto.
Com a decisão da Justiça, o governo conseguiu reduzir um contingenciamento de gastos dos ministérios de R$ 31,3 para R$ 10,7 bilhões. “O ponto aqui é que se perdeu uma oportunidade clara de reforçar o compromisso com a disciplina fiscal, o que teria ajudado a ancorar expectativas e favorecido um cenário mais benigno para juros e inflação no médio prazo”, critica Laplechade.
Ao mesmo tempo, Odilon Guedes, do Corecon-SP, destaca que o alto patamar dos juros complica ainda mais a situação fiscal. “Estima-se que o país terá que arcar, neste ano, com aproximadamente um trilhão de reais em juros, em decorrência da elevação persistente da taxa de juros, cerca de 8% do PIB”, diz.
“Há uma grande contradição, pois um dos motivos que levam o mercado a demandar taxas de juros mais elevadas é o aumento da dívida pública, que, por sua vez, cresce em razão do excessivo aumento da taxa de juros”, completa Guedes.
Com o Congresso em recesso até 1º de agosto, estão em suspenso outras medidas que o governo busca promover para ajustar as contas, a exemplo da taxação de investimentos como LCI e LCA. As medidas no entanto enfrentam resistência do Parlamento, de agentes do mercado financeiro e de setores do empresariado do país.
Juros e atividade econômica
Por fim, o Copom também deve avaliar os níveis de atividade econômica. O alto dinamismo e o baixo desemprego registrados atualmente colaboram para pressionar a inflação. Assim, preocupam agentes que passam a demandar prêmios maiores para investir nos títulos da dívida pública.
“Os fatores que têm demandado atenção nas reuniões do Copom, são os mesmos destacados em atas anteriores: a solidez do crescimento econômico, o aumento consistente da massa salarial e a redução do desemprego”, destaca Odilon Guedes sobre este aspecto.