Em um pregão marcado por oscilações contidas, os juros futuros consolidaram viés de baixa em toda a extensão da curva a termo na etapa final da sessão desta quinta-feira, 23. As quedas em todos os vencimentos, ainda que contidas, contrariaram uma conjunção de fatores que teria potencial para pressionar as taxas, após três dias seguidos de redução na semana.

Mesmo com forte aumento das cotações de petróleo depois de o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos ter aplicado sanções às duas maiores empresas petrolíferas da Rússia, e a aversão ao risco no ambiente externo que elevou as taxas dos Treasuries, os DIs encontraram espaço adicional para ceder. Do lado doméstico, a curva pouco reagiu a dados mais fracos de arrecadação de setembro publicados mais cedo.

O comportamento benigno dos DIs, segundo agentes, pode ter refletido ajustes técnicos de posições, enquanto o mercado aguarda o resultado do IPCA-15 deste mês, a ser divulgado nesta sexta-feira. Também ainda há como pano de fundo a percepção de melhora do ambiente inflacionário, na medida em que casas continuam revisando estimativas para baixo após o reajuste negativo da gasolina efetuado pela Petrobras. Como o corte ocorreu nesta semana, a leitura é a de que a estatal não deve fazer nova alteração no curto prazo.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,883% no ajuste anterior a 13,879%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,187% no ajuste a 13,155%. O DI para janeiro de 2029 marcou 13,120%, vindo de 13,148% no ajuste antecedente. O DI para janeiro de 2031 recuou de 13,43% no ajuste a 13,405%.

Gestor de fundos multimercados da AZ Quest, Eduardo Aun afirma que a dinâmica benigna dos DIs no pregão atual teve sintonia com a valorização modesta do real ante o dólar, ainda que tenha ignorado a pressão vinda dos rendimentos dos Treasuries. A divisa brasileira se beneficia quando o preço do petróleo aumenta, dado que o País é um grande exportador de óleo. “A curva americana e a alta do petróleo seriam um vetor de alta para as taxas, mas o real se apreciando um pouco enfraquece o canal de transmissão dos Treasuries para os DIs”, aponta Aun.

Para o gestor, há um consenso do mercado sobre uma possibilidade de cortes mais cedo do que se antecipava na Selic, na esteira da visão de que a inflação está mais controlada. “Tanto a inflação quanto a atividade estão dando sinais mais claros de desaceleração”, diz, o que também ainda pode ter feito preço nos DIs hoje, ainda reverberando as últimas três sessões, na falta de gatilhos mais potentes para os negócios no pregão desta quinta. “Ainda há um rebote desse movimento da semana. E é natural que o mercado prepare posições para o IPCA-15 desta sexta-feira, 24, que é um número que pode fazer preço”, acrescentou.

Pela manhã, a Receita Federal divulgou que a arrecadação de impostos e contribuições federais ficou em R$ 216,727 bilhões em setembro. O dado ficou ligeiramente aquém da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, de R$ 217,400 bilhões. As taxas mais longas tiveram máximas e chegaram a subir após o resultado, mas o movimento teve fôlego curto. Segundo Heliezer Jacob, economista do C6 Bank, tributos mais relacionados ao ciclo econômico, como PIS/Cofins, IRPJ e CSLL, têm mostrado desaceleração, mas em linha com o observado nos dados de atividade.