Os juros futuros tiveram o melhor comportamento entre os ativos de risco domésticos no morno pregão desta quarta-feira, 19, percorrendo boa parte da segunda etapa da sessão em viés de queda por toda a extensão da curva. As taxas intermediárias e longas chegaram a tocar mínimas intradia pouco antes da divulgação da ata do Federal Reserve (Fed), mas sem se afastar dos ajustes anteriores.

Segundo agentes, em um dia de liquidez reduzida nos negócios às vésperas do feriado da Consciência Negra amanhã – quando será conhecido o payroll de setembro -, a sessão foi marcada por cautela dos investidores e possíveis ajustes técnicos, sem grandes catalisadores para as taxas.

Os rendimentos dos Treasuries, que inverteram o sinal negativo observado até então após a publicação da ata do Fed, não foram suficientes para mudar a tendência lateral dos DIs. No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,638% no ajuste anterior para 13,63%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,884% no ajuste antecedente a mínima intradia de 12,86%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,205%, vindo de 13,239% no ajuste.

No documento que acompanhou a última decisão de juro do banco central americano, de outubro, os integrantes do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) avaliaram que a análise econômica ficou mais difícil em meio ao shutdown, que suspendeu a divulgação de estatísticas oficiais. A ata mostra, ainda, um FOMC dividido sobre cortar ou manter a taxa básica no encontro de dezembro. De outro lado, a percepção de que o mercado de trabalho está perdendo força foi reiterada, mas a visão é de que a inflação no país segue elevada.

“Tivemos um Fed bastante misto, mas no geral os dirigentes estão céticos quanto ao efeito das tarifas na inflação”, afirma Marcos Praça, diretor de análise na Zero Markets Brasil. O comitê avalia que haverá um efeito inflacionário da política tarifária de Trump ao longo dos próximos trimestres. Com essa sinalização, as apostas para manutenção dos Fed Funds em dezembro, que estavam em 50% ontem, agora estão perto de 70%, observa Praça.

Até lá, muito provavelmente o Fed não terá à mão os dados do payroll de outubro e novembro, cuja apuração foi afetada pela paralisação do governo americano. “O mercado acredita que não terá corte pela falta de dados”, comentou o diretor.

“Foi reforçada a narrativa de que a decisão para dezembro não está tomada, dependendo de dados econômicos”, afirma Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad. “Vale lembrar, porém, que a reunião ocorreu em outubro, e muito mudou no cenário macro desde então, incluindo o término do shutdown e a expectativa de acesso a novos dados essenciais para a tomada de decisão”, ponderou.

Por aqui, Praça, da Zero Markets, afirma que a narrativa de perda de ímpeto da inflação e de desaceleração do nível de atividade, na ausência de novidades no pregão, seguiu sustentando a acomodação das taxas futuras. “Hoje [quarta-feira] foi um dia bem neutro, antes do feriado e do payroll. O pessoal está em cima do muro aguardando dados mais relevantes”.

Em relatório divulgado nesta quarta, o Barclays informa que revisou recentemente para baixo sua projeção para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025, de 4,6% para 4,4%. Segundo Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do banco britânico, os preços de alimentação a domicílio e bens industriais têm mostrado evolução benigna, embora os serviços ainda continuem mais resilientes. A previsão para 2026 foi mantida em 4,2%.