27/08/2024 - 16:54
As taxas dos DIs fecharam a terça-feira, 27, em alta em sintonia com o avanço dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries), com a curva a termo brasileira precificando novamente 100% de probabilidade de alta da taxa Selic em setembro, ainda que muitos analistas tenham considerado os dados do IPCA-15 divulgados pela manhã favoráveis.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,875%, em alta de 4 pontos-base ante os 10,832% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,545%, ante 11,424% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,48%, ante 11,388%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,61%, ante 11,548%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,6%, ante 11,537%.
O avanço dos yields dos Treasuries no exterior pela manhã, enquanto investidores aguardam a divulgação de mais dados nos EUA no restante da semana, trouxe um viés de alta para as taxas futuras também no Brasil.
A alta das taxas era vista em toda a curva brasileira, inclusive nos contratos de curtíssimo prazo, que passaram a precificar chances de alta de 25 pontos-base ou de 50 pontos-base da Selic em setembro — e não mais de manutenção em 10,50% ao ano.
Isso ocorreu a despeito de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de agosto, divulgado pela manhã, ter apresentado números favoráveis na visão de boa parte dos analistas.
Desinflação e expectativas
Considerado uma espécie de prévia da inflação oficial, o IPCA-15 subiu 0,19% em agosto, após alta de 0,30% em julho. Em 12 meses ele ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. Economistas consultados pela Reuters estimavam alta de 0,20% do IPCA-15 em agosto, com aumento de 4,45% na comparação anual.
“As leituras de curto prazo foram benignas. O IPCA (índice oficial de inflação) de agosto vai ser bom, com grande chance de deflação no mês, mas ao mesmo tempo temos um ambiente de desancoragem de expectativas e de mercado de trabalho muito forte”, avaliou o economista-chefe do banco BMG, Flavio Serrano. “Este é o principal dilema do BC.”
No relatório Focus mais recente, a projeção do mercado para a inflação em 2024 subiu de 4,22% para 4,25% e em 2026 de 3,91% para 3,93% — em ambos os casos bem acima do centro da meta de inflação, de 3%. Já os dados de emprego seguem fortes, com o Ministério do Trabalho e Emprego projetando geração de 2 milhões de empregos formais este ano.
“A desancoragem de expectativas atrapalha o BC. No ambiente atual, o mais indicado seria manter a Selic, porque há muita incerteza em relação ao cenário, inclusive com o Federal Reserve podendo cortar mais os juros que o esperado”, opinou Serrano. “Mas se mantiver em setembro, não quer dizer que em novembro o BC não terá que subir”, acrescentou.
Profissionais têm avaliado que as declarações recentes de dirigentes do BC, em especial do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, tornaram inevitável uma alta da Selic em setembro.
Isso porque o diretor tem repisado que a desancoragem de expectativas preocupa e que a instituição subirá a Selic se necessário. Em reação, a curva a termo tem precificado chances cada vez maiores de alta da Selic.
Perto do fechamento desta terça-feira, por exemplo, a curva precificava 95% de probabilidade de alta de 25 pontos-base da Selic em setembro e 5% de chance de elevação de 50 pontos-base — apagando a probabilidade de manutenção. Na véspera, ainda havia na curva uma precificação de 7% de probabilidade de manutenção da Selic.
“O BC até poderia manter a Selic, mas depois de tudo o que foi dito, não dá mais. Eles (os dirigentes do BC) não têm muita alternativa e precisarão subir”, avaliou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
No exterior, as taxas dos Treasuries de prazos mais longos seguiam em leve alta no fim da tarde, mas as de curto prazo cediam, após um leilão de títulos de dois anos durante a tarde.
Às 16h36, o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 2 pontos-base, a 3,833%, enquanto o yield do título de dois anos –que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo– tinha queda de 3 pontos-base, a 3,908%.