30/04/2025 - 18:13
Os juros futuros recuaram nesta quarta-feira, 30, pré-feriado, conduzidos pelo aumento dos temores sobre recessão nos EUA após dados fracos da economia e pelo resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) pior do que o esperado.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caía de 14,697% para 14,675%, e a do DI para janeiro de 2027, de 13,96% para 13,91%. O DI para janeiro de 2029 terminou o dia com taxa de 13,53%, de 13,65% ontem no ajuste.
As taxas encerraram abril em níveis bem mais baixos do que haviam terminado março, e com perda relevante nos níveis de inclinação da curva. Enquanto as curtas cederam em torno de 35 pontos-base, as longas caíram mais de 100. “O ineditismo do cenário global tem se mostrado, até o momento, relativamente benigno para o Brasil”, afirmam os economistas da Terra Investimentos, em relatório. “O mercado local tem se beneficiado da fuga dos ativos em dólar, levando à redução das taxas de juros longas locais, à apreciação do real e à valorização dos ativos locais”, complementam.
Nesta quarta-feira, pela manhã, o cenário externo foi preponderante para a queda das taxas, uma vez que a Pnad Contínua no trimestre até março mostrou condições ainda apertadas para o mercado de trabalho, ainda que a taxa de desemprego tenha acelerado na margem, a 7,0%, alinhada à mediana das estimativas.
Os dados de atividade dos EUA decepcionaram, com destaque para o PIB do primeiro trimestre, com retração de 0,3% (primeira estimativa), contrariando o consenso de crescimento de 0,1%. Foi a primeira queda em três anos e preocupa por tratar-se de um período em que ainda não haviam sido anunciadas as tarifas de importação do governo Trump, o que ocorreu em 2 de abril. Houve reforço nas apostas de corte total de 100 pontos nos juros pelo Federal Reserve em 2025.
À tarde, o fôlego de queda foi renovado pelos dados do Caged no trimestre até março. A geração de 71.576 vagas veio abaixo do piso das estimativas, de 97.000, coletadas pelo Projeções Broadcast. Foi o segundo pior para o mês desde o início da série histórica, em 2020. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, argumentou que o número excepcional de vagas criadas em fevereiro, 437.111, já havia antecipado uma geração de postos que em outros anos ocorreu em março. De todo modo, disse “estar na hora de o Banco Central parar de falar em aumento da taxa Selic e começar a tratar de uma redução dos juros”.
Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o dado do Caged mostra que o mercado formal já começa a sentir os efeitos do aperto monetário. “Esse número mais frio contrasta com o da Pnad, que ainda mostra um desemprego historicamente baixo, mas é importante lembrar que a Pnad é trimestral e capta movimentos mais lentos. O Caged, por outro lado, sinaliza que o ritmo da economia está mudando. Essa freada no emprego formal deve aparecer nos próximos trimestres do PIB”, afirma.
O contexto internacional permeado pelos receios sobre o impacto do tarifaço na economia global, somado à percepção de que a economia brasileira tende a sentir mais os efeitos do aperto da Selic a partir do segundo trimestre, mantém o mercado em dúvida sobre em qual medida o Copom vai reduzir o ritmo de alta do juro em maio.
“O mercado está entre 50 e 25 pontos, com esta última opção ganhando probabilidade diante da incerteza externa, e dados como o Caged de hoje sugerem desaceleração da atividade à frente”, afirma a economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa. Por outro lado, pondera que a dinâmica da inflação corrente, embora não tenha piorado, não é benigna, e roda acima da meta de 3%. “Como o cenário externo traz uma incerteza muito grande, é possível que o BC deixe a Selic parada por muito tempo antes de começar a cortar. O comunicado deve trazer um discurso duro, mas deixará a porta aberta para as próximas decisões.”
Em operação antecipada nesta semana em razão do feriado do Dia do Trabalhador amanhã, o Tesouro trouxe um leilão grande de prefixados. Vendeu 17,8 milhões das 18 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) ofertadas e integralmente o lote de 4 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F), sem impactos relevantes para a curva do DI.