Os juros passaram nesta sexta-feira por uma correção parcial do movimento de queda da quinta-feira e fecharam com taxas em alta, tendo a aversão ao risco nos mercados internacionais como ponto de partida. O avanço foi forte na ponta longa, de maior sensibilidade a eventos externos, enquanto as taxas curtas, justamente as que mais tinham cedido, tiveram ajuste mais moderado. O temor sobre o resultado da combinação entre inflação, aperto monetário e recessão na Europa e nos Estados Unidos cresceu após indicadores fora do esperado, medidas fiscais no Reino Unido, e declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.

Por aqui, a agenda esteve esvaziada e resta agora saber se a ata do Copom e a entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) na próxima semana serão capazes de convencer o mercado de que a Selic não deve cair tão cedo. Na semana, as taxas tiveram queda, mais expressiva nos vencimentos curtos, conferindo leve ganho de inclinação à curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,68%, de 13,675% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,782% para 12,825%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 11,625%, de 11,481% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 teve taxa de 11,41%, de 11,183%. Na semana, a ponta curta caiu em torno de 40 pontos-base e a longa, cerca de 30 pontos.

O sinal de alta nas taxas se instalou logo na abertura, refletindo o pessimismo no exterior com PMIs fracos sugerindo recessão na zona do euro e no Reino Unido, com o mercado ainda tendo de digerir um megapacote fiscal anunciado pelo governo britânico, que levará a um forte endividamento.

A libra tombou e os juros dos gilts dispararam. Na curva americana, a taxa da T-Note de 2 anos subiu ainda mais, para perto de 4,20% no fim da tarde, com o PMIs Composto nos EUA no maior nível em 3 meses endossando a percepção de um Federal Reserve agressivo. Mas os rendimentos dos papéis longos cederam, refletindo a busca pela segurança, que também impulsionou o dólar de forma generalizada. No Brasil, fechou perto de R$ 5,25.

“Hoje os ativos se dividem entre o receio de uma recessão mais acentuada, impactando as commodities, que caem forte, como o petróleo, agora próximo dos U$ 80, e o risco dos BCs não conseguirem controlar a inflação, levando as curvas de juros a uma nova e forte abertura de taxas”, resumiu o operador de renda fixa da Renascença DTVM Luis Felipe Laudísio.

À tarde, a cautela teve ainda o reforço de declarações de Powell, segundo o qual a instituição está determinada em usar suas ferramentas para lidar com o que ele definiu como o “novo normal da economia americana”.

Para a economista-chefe da B. Side Investimentos, Helena Veronese, o exterior adverso abriu espaço para a correção. Não fosse isso as taxas talvez não tivessem subido, enquanto a ponta curta “continua na contramão da mensagem hawkish” do BC. “Até agora não deu para entender o comportamento do mercado”, disse ela, referindo-se ao alívio nos prêmios na quinta no pós-Copom. Para ela, é natural que, após o fim do ciclo de alta, comece um debate sobre o início dos cortes, mas com a inflação de serviços pressionada e as expectativas ainda desancoradas, a Selic deve permanecer nos 13,75% até o segundo semestre de 2023.