SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos contratos futuros de juros recuaram no Brasil, em meio à expectativa de que o Banco Central poderá ser levado a reduzir a Selic mais rapidamente do que o esperado em função da crise que atingiu bancos norte-americanos e, nesta quarta-feira, o europeu Credit Suisse, elevando os receios de contágio para todo o sistema.

Após os norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank serem liquidados, nesta quarta-feira foi a crise do Credit Suisse que disparou a busca por ativos de menor risco em todo o mundo.

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Nos Estados Unidos, um dos efeitos foi a queda dos retornos dos Treasuries, com a leitura de que, para evitar danos maiores ao setor bancário, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) será obrigado a eventualmente não subir os juros básicos ou mesmo a cortá-los na semana que vem segundo algumas apostas minoritárias, a despeito da inflação.

No Brasil, agentes do mercado avaliaram que, assim como o Fed, o Banco Central pode ser levado a reduzir a Selic mais cedo para conter eventual crise. A princípio, a expectativa majoritária do mercado era de que o BC começasse a reduzir a taxa básica apenas nos últimos meses do ano.

“Os investidores estão vendo uma chance real de o BC antecipar o ciclo de corte de juros, que se espera mais para o fim do ano. Isso ocorre por conta da preocupação com a crise no setor bancário mundial, que começou nos EUA e agora está surgindo também na Europa, embora por motivos distintos”, comentou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

As ações do segundo maior banco da Suíça chegaram a afundar mais de 30% nesta sessão, após o seu maior investidor, o Saudi National Bank, afirmar que não poderia fornecer mais assistência financeira por restrições regulatórias.

A crise do Credit Suisse revigorou os temores de que o mundo possa enfrentar uma crise de crédito, o que teria como resultado uma forte contração da economia. Neste cenário, conforme Rostagno, o BC poderia antecipar o corte da Selic, atualmente em 13,75% ao ano

“É pouco provável um corte da Selic já na próxima semana, mas tudo depende de como o cenário vai evoluir. Se este nível de estresse perdurar até a semana que vem, o BC pode ser compelido a agir imediatamente”, ponderou.

No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 12,96%, ante 13,057% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 12,06%, ante 12,221%. A taxa para janeiro de 2027 estava em 12,515%, ante 12,581% do ajuste anterior.

A curva de juros precificava, perto do fechamento, 10% de chances de a Selic ser cortada em 0,25 ponto porcentual, para 13,50% ao ano, no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC da semana que vem. Havia ainda 90% de chances de a Selic seguir em 13,75% ao ano.

Nos EUA, os retornos dos Treasuries seguiam em baixa neste fim de tarde.

Às 16:45 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 15,10 pontos-base, a 3,4847%.

 

(Por Fabrício de Castro)

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