27/08/2025 - 18:17
Os juros futuros percorreram a segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 27, em sua maior parte, rondando os ajustes do dia anterior. Algumas taxas chegaram a tocar mínimas intradia pouco antes da divulgação do Caged de julho – que trouxe uma criação de vagas abaixo da esperada pelo mercado -, mas o alívio maior não se sustentou. Uma análise mais aprofundada dos dados sugere que o mercado de trabalho não perdeu tanto fôlego, ao mesmo tempo em que o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, deu indicações ainda conservadoras para a política monetária durante evento da Fenabrave.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,977% no ajuste de ontem para 13,965%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,297% no ajuste a 13,28%. O DI de janeiro de 2029 marcou 13,245%, de 13,244% no ajuste anterior. Já o DI de janeiro de 2031 subiu ligeiramente, de 13,586% no ajuste antecedente para 13,61%.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou que 129.775 vagas com carteira assinada foram abertas em julho, ante expectativa de 135 mil postos de trabalho, segundo a mediana do Projeções Broadcast. De acordo com cálculos com ajuste sazonal do Bradesco, no entanto, o saldo trimestral do Caged continua acima de 100 mil – patamar suficiente para manter a taxa de desemprego em estabilidade.
Por volta do mesmo horário da divulgação do Caged, Galípolo participou do 33º Congresso e Expo Fenabrave, em São Paulo. Em sua fala, o presidente do BC afirmou que a renda tem se mostrado resiliente e que o País segue com o desemprego nas mínimas históricas, reforçou que a taxa de juros deve permanecer em patamar restritivo por período prolongado, e que as expectativas de mercado e projeções do próprio BC ainda indicam que a convergência da inflação à meta ocorre em ritmo lento.
Segundo o banqueiro central, o Comitê de Política Monetária (Copom) não pode se “deixar levar por emoções” ou por um ou outro dado pontual na hora de tomar suas decisões. “O BC não pode se emocionar. A velocidade e a função de reação do BC precisa ser diferente da do mercado”, comentou.
Para Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, era de se esperar que, com o fechamento da curva de juros americana e a desaceleração no ritmo de abertura de vagas evidenciada pelo Caged, os DIs tivessem evolução mais favorável na sessão desta quarta.
“Mas o Galípolo teve um discurso mais ‘hawkish’, ao afirmar que a inflação está convergindo à meta de forma mais lenta, e que o Copom entende que o aperto monetário se dará por tempo mais longo. Ele descartou corte de juros no curto prazo, o que fez com que as taxas se inclinassem”, disse Hansen.
Economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi avalia que, mais do que as falas do comandante do BC, as taxas futuras refletiram hoje uma percepção de que o Caged, mesmo com um ‘headline’ mais fraco, trouxe dados ainda positivos.
“Houve maior criação de empregos em setores cíclicos, especialmente construção civil e manufatura”, observa Borsoi. “A criação de empregos no comércio, construção civil, manufatura e serviços somou 110,7 mil empregos, acima de junho (107,5 mil)”, destaca.
Para o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, o Caged apontou um mercado ainda aquecido, devido ao elevado volume de admissões e demissões. Na avaliação da XP, a taxa de desocupação vai continuar abaixo do seu nível neutro – aquele que não acelera nem desacelera a inflação – por período “bastante prolongado”. (COM FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E DANIEL TOZZI)