UM DIVÓRCIO BILIONÁRIO acaba de ser anunciado no mundo dos negócios. O presidente da Vale, Roger Agnelli, comunicou a sua intenção de vender sua participação de 5,89% no capital da Usiminas, um negócio avaliado em torno de R$ 1,4 bilhão. A decisão afasta de vez duas empresas que desde a época das privatizações, no início da década de 90, estiveram alinhadas sob uma mesma estratégia na maior parte do tempo. A Vale fornecia o minério de ferro para a siderúrgica e ambas cresciam no mercado. Mas a Usiminas decidiu nos últimos anos ganhar autonomia e também explorar o minério de ferro. Ou seja, se tornar concorrente da Vale. Em fevereiro, veio a gota d?água com o anúncio da aquisição da mineradora J. Mendes pela Usiminas. Com isso, surgiram faíscas cada vez mais fortes na relação, até o racha definitivo da semana passada. ?A Usiminas foi, de alguma forma, um pouco lenta nessa estratégia (de liderar o mercado). Tanto que hoje falta no Brasil aço?, disparou Agnelli em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. ?Achamos que é um erro estratégico desviar o foco dos negócios para a mineração?, explicou. Pode ser que a Usiminas não tenha crescido tanto quanto poderia, mas manteve-se na média do mercado. Desde 2000, as receitas da empresa cresceram três vezes e meia e a do setor um pouco menos que isso (3,2 vezes).

Wilson Brumer, presidente do conselho de administração da Usiminas, manteve-se aparentemente inabalado e não comentou em público as declarações do ex-aliado. Mas, na véspera, o presidente da Usiminas concedeu entrevista à DINHEIRO na qual demonstrou segurança em dar ?tchau? para a Vale. ?O movimento que estamos fazendo no momento é natural?, disse Brumer, que já dirigiu a Vale na década de 90. ?A Vale já exerceu o papel que tinha que exercer na Usiminas?, cutucou. De acordo com seu ponto de vista, a Usiminas, ao se tornar também uma mineradora, está afinada com a tendência do setor, o que a torna mais competitiva. ?Há alguns anos havia uma linha tênue separando a mineração e a siderurgia. Um não interferia no outro. Mas isso mudou e esta lógica hoje não tem sentido?, afirmou. Segundo Brumer, uma das razões da necessária ?verticalização da produção? foi o aumento do ?preço da matéria- prima? das siderúrgicas.

O rompimento era esperado pelo mercado. ?O casamento acabou?, definiu o professor Germano Mendes de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia e especialista em siderurgia. ?Levou 17 anos para este ciclo, que uniu a Vale e a Usiminas, se desfazer. Agora, são empresas concorrentes e esta é uma tendência.? O casamento foi celebrado no início dos anos 90. Recém-privatizada, a Vale adquiriu participações acionárias em clientes, como a Usiminas. Essa foi também uma boa oportunidade para se livrar dos ?papéis podres?, como debêntures da Siderbrás, aplicadas nas privatizações. O professor observa que siderúrgicas instaladas em países com reservas de minério tendem sim a acumular as funções de mineradoras. Para ele, o que ocorreu era esperado e irreversível. Agora, Vale e Usiminas estão separadas para sempre!