A espontaneidade com que o empresário Jonney Shih, o fundador e chairman da fabricante chinesa de computadores Asus, agradece a quem se declara cliente da empresa revela alguém seguro da qualidade de seus produtos. Sem a petulância de um vendedor, mas com a confiança de quem conhece em detalhes aquilo que vende, Shih faz questão de apresentar as inovações de cada equipamento da empresa. E não são poucas. Nos últimos quatro anos, a Asus passou de uma simples fabricante de placas-mãe (componente central dos computadores) para uma lançadora de tendências tecnológicas.  A transformação começou em 2007, quando Shih apresentou ao mercado o netbook. Seus concorrentes, inclusive empresas do porte da HP e da  Dell, levaram oito meses até se darem conta do tamanho da demanda por esses computadores compactos  e lançar suas próprias versões. 

Nesse período, a Asus já havia vendido milhares de netbooks e liderava o segmento que mais crescia no momento. “Tudo se resume ao desejo dos consumidores”, afirmou Shih, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Podemos criar  muitas inovações apenas olhando para o comportamento das pessoas.” É verdade que, de lá para cá, a Asus perdeu a liderança no mercado de netbook s e amargou o primeiro prejuízo trimestral de sua história. Mas Shih, 59 anos, formado em engenharia elétrica pela Universidade de Taiwan, não deixou de disseminar a cultura da inovação e do design na companhia. O resultado da estratégia veio ao final do primeiro semestre, quando a empresa assumiu a segunda posição em vendas de tablets, perdendo apenas para a Apple e superando, mais uma vez, gigantes como HP, Dell, Motorola e Samsung.

 

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Inovação chinesa: Jonney Shih e seu tablet. Aparência de notebook garantiu o segundo lugar em vendas 

 

Desde a sua fundação, em 1990, a Asus se destacou pela qualidade dos produtos. Segundo Shih, no início, essa era sua maior preocupação. “Transformar seu projeto em um produto de qualidade é um grande passo para um engenheiro”, afirma. A partir de 2007, a companhia iniciou um processo de reestruturação que culminou na introdução de uma nova cultura, chamada de “design thinking”. Basicamente, trata-se de adicionar algo mais à engenharia, além de qualidade, como funcionalidade e beleza. “É o que a Apple faz com perfeição”, afirma o executivo, que não esconde sua admiração pela empresa de Steve Jobs. “Tenho muito respeito pela Apple. Na estratégia que tentamos adotar, ela é mestre.”  A veneração de Shih, um adepto do budismo,  tem seus limites. “Seguindo o caminho que traçamos, acredito que talvez possamos superá-la.” 

 

Esse dia está longe. Em 2010, a Asus obteve receita de US$ 10 bilhões, contra US$ 63 bilhões da Apple. Mas, a empresa já incomoda, principalmente no mercado de tablets, a nova vedete da tecnologia. O grande trunfo da Asus no segmento foi propor uma transição mais suave para esse novo modelo de computador. Ao contrário da Apple, que aboliu de vez o teclado e as portas USB, a fabricante chinesa apostou em algo mais parecido com um notebook, mas sem perder a mobilidade do tablet. “Existem diferentes cenários de uso para os tablets”, afirma Shih. Em julho, a companhia vendeu cerca de 400 mil Eee Pad Transformers, seu principal modelo de tablet, o que, segundo o jornal chinês Digitimes, especializado em tecnologia, a coloca na segunda posição em vendas. 

 

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Não é pouco, principalmente considerando que as vendas de tablets devem alcançar US$ 29,4 bilhões em 2011, bem acima dos US$ 9,6 bilhões do ano passado, de acordo com a consultoria Gartner, especializada em tecnologia. Essa explosão do mercado de tablets representa também um risco para a Asus, uma vez que esses equipamentos devem substituir os netbooks. Segundo Alexandre Wu, gerente-geral da Asus no Brasil, nos mercados desenvolvidos a empresa já sente os efeitos dessa mudança. Em países emergentes, no entanto, a demanda por computadores de baixo custo continua grande, especialmente entre os consumidores das classes de menor poder aquisitivo. 

 

Mas a estratégia da empresa no País não se resume a esses clientes. A companhia planeja fabricar tablets no País a partir de 2012. A dificuldade está sendo achar parceiros para a empreitada. “Não encontramos quem possa garantir a qualidade que buscamos”, afirma Wu. No que depender do desejo do seu fundador, no entanto, essas dificuldades  devem ser logo superadas. “O Brasil caminha para ser o terceiro maior mercado de tecnologia”, afirma Shih. Ao que parece, a Asus, assim como a China, também caminha para superar os antigos líderes de mercado.