Mauro Figueiredo, que por seis anos ocupou o posto de principal executivo do Fleury, o segundo laboratório brasileiro, começou a contagem regressiva. A partir do dia 25 de março, um novo profissional o substituirá na presidência da empresa. 

Sentado em sua cadeira, no amplo escritório com vista para o movimentado aeroporto de Congonhas, em São Paulo, Figueiredo, que passará a presidir do conselho de administração do Fleury, faz um rápido balanço de sua passagem pelo posto. 

 

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Omar Magid Hauache, novo CEO do grupo Fleury

 

Sob seu comando, o laboratório mais do que dobrou de tamanho, passando de um faturamento de R$ 366 milhões, em 2004, para R$ 935 milhões, em 2010. Sob sua batuta foram realizadas 16 aquisições de concorrentes de menor porte e executada a bem-sucedida abertura de capital na Bovespa, em 2009, com a captação de R$ 630,2 milhões. 

 

A tarefa de sucedê-lo é do médico Omar Magid Hauache, que há 10 anos trabalha no Fleury, seis deles como diretor. “A ideia é dar continuidade ao que temos feito”, disse diplomaticamente Hauache, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “E a previsão é de que vamos continuar em ritmo forte de crescimento.”

 

Mas não se enganem com as palavras polidas de Hauache – o alerta é válido principalmente para a concorrência. Ele já tem bem definida sua missão: crescer como prestador de serviços diagnósticos dentro de hospitais. É justamente a área que estava sob seus cuidados nos últimos anos. “O segmento hospitalar tem uma margem interessante para nós”, afirma. 

 

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A receita desse negócio atingiu R$ 92 milhões em 2010. Embora represente apenas 10% da receita total do grupo, registra um crescimento impressionante de 48,4% frente ao ano anterior, o que evidencia o seu potencial de negócios. Mas avançar mais significa também entrar em território inimigo. 

 

Em São Paulo, no começo de março, o Fleury passou a atuar no Hospital A.C. Camargo, também conhecido como Hospital do Câncer. Em breve, o Fleury entrará nas três unidades do Hospital e Maternidade São Luiz, na capital paulista, vendida em setembro do ano passado para a rede carioca D´Or, hoje associada ao BTG Pactual. 

 

Ambos eram terceirizados para a Diagnósticos da América S.A. (Dasa), principal concorrente do Fleury e maior laboratório do Brasil, com receita na casa dos R$ 2 bilhões. “A demanda por hospitais está muita alta”, diz Figueiredo.

 

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Uma das estratégias para crescer nessa área é por meio de aquisições, como a que foi realizada em dezembro de 2010 por cerca de R$ 1 bilhão (metade em dinheiro e metade em ações) do Labs D’Or, o braço laboratorial do grupo D’Or. Quando a transação for concluída, o Fleury assumirá os serviços de mais de 19 hospitais, além dos nove onde ele já atua. 

 

A receita do segmento hospitalar saltará de 10% para 15% do faturamento. Outras compras nessa área estão no radar da companhia em 2011, principalmente de empresas fora de São Paulo. O Fleury pretende captar entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões em empréstimos com bancos ou via debêntures não conversíveis. Isso, segundo Hauache, daria mais fôlego para o Fleury realizar os R$ 350 milhões em investimentos que virão no biênio 2011-2012. 

 

Não se espera, porém, que a Dasa esteja disposta a assistir impassível aos movimentos de mercado do Fleury. Primeiro, porque a receita vinda dos hospitais é relevante para a líder: no terceiro trimestre de 2010, ela representou 9% dos R$ 428 milhões arrecadados, os dados mais recentes fornecidos pelo laboratório até o fechamento desta edição. 

 

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Figueiredo: após seis anos no comando do grupo,
executivo vai assumir o conselho de administração

 

Segundo, porque numa operação de troca de ações com o empresário Edson de Godoy Bueno, controlador da plano de saúde Amil, a Dasa assumiu uma parcela dos negócios da empresa de medicina diagnóstica MD1, permitindo-lhe ganhar participação de mercado no Rio de Janeiro, onde o MD1 é forte. 

 

“Com o acordo, a Dasa aumenta a escala para ser ainda mais competitiva em preços”, afirma Rodolfo Amstalden, da empresa independente de análise de mercados Empiricus. Graças a essa operação, por exemplo, a Amil fechou, em fevereiro, contrato para terceirizar com a Dasa exames laboratoriais feitos por unidades próprias em São Paulo, incluindo hospitais e centros médicos. Em outras palavras: vida dura para Hauache.