28/09/2013 - 7:00
Encontrar vagas de estacionamento nas grandes cidades brasileiras está ficando cada vez mais difícil. Problema para os motoristas, obrigados a perder um tempo precioso para guardar seus carros em segurança, é um filão de negócios para as empresas do setor, que, graças aos preços proibitivos e à escassez de oferta, faturam R$ 4 bilhões por ano, no País, liderado pela Estapar, do BTG Pactual. As oportunidades do mercado brasileiro atraíram a Vinci Park, braço de serviços de garagem do grupo francês Vinci, conglomerado da área de construção e infraestrutura, que faturou no ano passado € 38 bilhões. Ela comprou, em julho, 50% do capital da gaúcha Moving, por um valor não revelado.
Legião francesa: a Vinci Park desembarca no País amparada na força
de um grupo com receita global de 38 bilhões por ano
Com isso, já opera cerca de 100 estacionamentos na região Sul e está chegando também ao Sudeste, para disputar os concorridos mercados de São Paulo e do Rio de Janeiro. “Esse é um setor que precisa de modernização”, afirma Paul Valencia, diretor de negócios internacionais da Vinci Park. “Vamos trazer nossa expertise e nossa tecnologia para o Brasil.” Um detalhe torna essa disputa ainda mais acirrada. A Moving foi criada pelo empresário Fernando Stein, um ex-franqueado da Estapar. Antes de fundar a empresa, ele operava seus estacionamentos na região metropolitana de Porto Alegre. Quando o BTG comprou a Estapar, em 2009, Stein teve de optar por vender seus estacionamentos ou abandonar a marca.
“Não queria sair do negócio”, afirma o empresário, que preferiu a carreira solo. “Tomei a decisão certa.” Atualmente, a Moving possui cerca de 80 estacionamentos no Rio Grande do Sul. Até o final do ano, os planos são de chegar a uma centena de garagens, cinco delas em São Paulo (duas já estão em funcionamento) e outras duas no Rio de Janeiro. Os planos dos franceses, cujo negócio de estacionamentos fatura, anualmente, mais de € 700 milhões, são disputar o segmento de concessões públicas e privadas. A Vinci Park quer oferecer serviços de gestão de garagens para shoppings, hospitais, centros de compras e outros estabelecimentos do gênero. Para se diferenciar da concorrência, a ideia é adicionar inteligência ao negócio.
Estratégia local: parceria com o empresário Fernando Stein, ex-franqueado da Estapar
e criador da Moving, garante aos franceses uma visão privilegiada do mercado brasileiro
“Dificilmente os operadores de shopping centers sabem qual carro seus clientes dirigem, quanto tempo passam no estacionamento e quanto tempo levam para encontrar uma vaga”, afirma Stein. “São informações valiosas que podemos oferecer.” Na área de concessões públicas, a companhia quer aproveitar a expertise do grupo Vinci no ramo da construção para não só operar garagens municipais, mas também construí-las. Na Europa, a empresa detém 2,5 mil concessões, nas quais opera 360 mil vagas de estacionamento públicas. Nesse modelo, ganha o direito de explorar determinado terreno por um tempo – geralmente de dez a 20 anos –, comprometendo-se, em troca, a construir toda a infraestrutura necessária.
Segundo Valencia, boa parte desses estacionamentos é subterrânea. “O lugar onde ainda há espaço para a construção de grandes estacionamentos é embaixo do asfalto”, afirma o executivo. “Queremos fazer isso no Brasil.” No entanto, ele ainda não iniciou conversas com nenhuma prefeitura para viabilizar esses planos, que devem ficar para uma segunda etapa de investimentos no País. Neste ano, Vinci e Moving planejam investir R$ 90 milhões para expandir a operação. Além da Europa, a empresa opera estacionamentos nos Estados Unidos e no Oriente Médio.
A disputa com a Estapar não será fácil. Sua liderança no segmento, com mais de 900 estacionamentos, o que lhe permite cobrar os preços mais salgados do setor em praças como a capital paulista, é inconteste. Até 2014, a empresa, que atua em 13 Estados e opera 240 mil vagas, pretende chegar a mil garagens. Uma de suas principais forças é, justamente, a prestação de serviços para shoppings e outros estabelecimentos comerciais de grande porte. Em meados de agosto, a Estapar ganhou a concessão do estacionamento do aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador. O contrato, que tem a duração de 20 anos, deverá promover um salto de 43% em suas receitas, que devem ultrapassar R$ 700 milhões neste ano. Nessa briga, não há ninguém estacionado.