Lourival Kiçula, presidente da Tec Toy, é o que se pode chamar de cantor bissexto. Fã de bossa nova, ele sabe de cor o repertório de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, o qual entoa em longas sessões de karaokê com familiares e amigos. Nos últimos meses, o executivo de 59 anos vem mostrando os dotes musicais até mesmo durante o expediente. A euforia é mais que justificada. As vendas de aparelhos de DVD Karaokê da marca garantiram 55% da receita de R$ 51 milhões obtida pela empresa em 2004. O melhor da história é que o montante representa um salto de 34% em relação a 2003. Para completar a alegria do executivo-cantor, a empresa prepara em segredo sua estréia em novos segmentos, como o de câmeras fotográficas digitais e até o de tocadores de música digital. É bem verdade que o balanço ainda está no vermelho: o prejuízo do período foi de R$ 2,9 milhões, 65% abaixo do registrado em 2003. ?Estamos perto de atingir o equilíbrio?, diz Kiçula. A safra de boas notícias chega depois de um longo processo de reestruturação iniciado com o pedido de concordata, feito em setembro de 1997 por conta da crise asiática. O receituário amargo incluiu desde a demissão em massa de funcionários até uma radical mudança na linha de produtos. ?Deixamos de ser apenas um fabricante de brinquedos para nos tornarmos uma companhia de entretenimento?, explica Kiçula. Ele assumiu o posto, em 1998, no lugar do controlador Stefano Arnhold, que deixou de cuidar do dia-a-dia da empresa. A tecnologia para produzir microsystems e DVDs ele foi buscar na gigante chinesa TCL, dona da marca RCA. Com isso, a Tec Toy reduziu o impacto da sazonalidade (Natal e Dia das Crianças) em suas vendas.

Apesar disso, Kiçula não cogita abandonar o segmento de videogames, no qual a empresa reina absoluta com as marcas MasterSystem e Megadrive e cujo mascote é o personagem Sonic da japonesa Sega. Eles respondem por 40% das vendas da Tec Toy. O segredo é o preço: custam no máximo R$ 329 e vêm com até 105 joguinhos instalados. Kiçula sabe, no entanto, que a sobrevivência da Tec Toy exigirá mais que joguinhos e karaokê. Por conta disso, o executivo não descarta a possibilidade de agregar itens mais sofisticados (e com preços mais elevados) ao portfólio de produtos: câmera digital, tocador de MP3 e televisores, aproveitando a força da parceira asiática. ?Estamos estudando?, limita-se a dizer. Até lá, ele segue cantarolando os sucessos de seus autores prediletos.

R$ 51 milhões foi o faturamento da empresa no ano passado, um crescimento de 34% em relação a 2003