Existe uma robusta árvore genealógica por trás da Shape Digital. A empresa criada há menos de três anos é uma spin-off da Modec (que nasceu no fim dos anos 1960), o braço petroleiro da seguradora Mitsui (de 1947). O grupo que a criou teve faturamento de US$ 81,2 bilhões entre abril e dezembro de 2022 e é um dos maiores conglomerados japoneses. No fim de 2020, a Shape surgiu para oferecer soluções inovadoras ao setor de produção de óleo e gás offshore. E agora começa a expandir a atuação para novos verticais, como papel e celulose, mineração e geração de energia. “Queremos replicar o que aprendemos no setor altamente eficiente de óleo e gás para os demais da indústria de base”, disse à DINHEIRO Henrique Domakoski, vice-presidente global de Vendas e Marketing da companhia.

Utilizando inteligência artificial para soluções de manutenção preditiva, a empresa está presente em mais de 20% da produção nacional de óleo e gás, com soluções operando em seis navios-plataforma no Brasil. Embora pouco conhecida, ela é responsável por gerar anualmente o equivalente a US$ 150 milhões em produção incremental de óleo e na operação da frota de navios com capacidade para processar e armazenar petróleo, FPSOs, na sigla em inglês. Com média de 1,74 dia de tempo de parada evitado por ano, a Shape reduziu em mais de 10% das interrupções de produção das unidades. Os dados são da empresa, que não revela faturamento por aqui.

MENOS CARBONO Vice-presidente global da Shape Digital, Henrique Domakos afirmou que a empresa desenvolve sistema para identificar possibilidades de reduzir emissões de gases do
efeito estufa. (Crédito:Leticia Akemi)

Tamanho desempenho chamou a atenção da Petrobras, que firmou uma parceria de P&D com a Shape em dezembro de 2022, visando o codesenvolvimento de um Virtual Engineering Tool (VET), ou engenheiro virtual, capaz de realizar simulações assistidas mais rápidas e precisas. O objetivo é indicar o melhor momento para a limpeza das membranas de remoção de sulfato presentes nas plataformas de produção. A
previsão é de que o projeto seja entregue nos próximos meses.

As soluções de monitoramento e manutenção preditiva utilizam uma extensa biblioteca de modelos de dados e mais de 70 mil equipamentos monitorados. “Ela aprende com o histórico do cliente, coletando dados de paradas em eventos anteriores para estimar novas ocorrências, evitando prejuízos milionários que podem colocar em risco não apenas a operação, mas também a segurança dela”, disse Caio Sene, VP de tecnologia da Shape Digital. O conjunto de ferramentas de monitoramento pode ser aplicado em diferentes tipos de equipamentos, como turbinas, compressores e bombas. A inteligência artificial verifica os diversos sensores presentes nas plantas e consegue fazer previsões de manutenção, reduzindo o downtime e os custos com reparos emergenciais.

Divulgação

“Ela [a inteligência artificial]aprende com o histórico do cliente, coletando dados em eventos anteriores para estimar novas ocorrências, evitando prejuízos milionários” Caio Sene, VP de tecnologia da Shape Digital.

PLANOS Este ano, a empresa pretende expandir para segmentos como papel e celulose, mineração e geração de energia. Segundo o vice-presidente global Domakoski, os planos são para aumentar a base de clientes, validando ainda mais as tecnologias e o modelo de negócio no mercado, que foi reconhecido como Global Lighthouse (índice de inovação) da Indústria 4.0 pelo World Economic Forum. Outro foco, inevitável, é a sustentabilidade. “Sabemos que a indústria de base é uma das principais contribuintes das emissões de gases do efeito estufa”, afirmou. “Estamos desenvolvendo um produto que aproveita a nossa experiência para identificar possibilidades de redução”.