24/09/2003 - 7:00
Como seria um carro conversível com capota? Contraditório, obviamente. Mas instigante. Por isso, a indústria automobilística, que adora uma provocação, regou o 60º Salão do Automóvel de Frankfurt com uma visão de futuro revolucionária: os modelos com teto de vidro. Citroën, Mercedes, Audi, Ford, Cadillac, Peugeot, Renault ? todas exibiram protótipos com essa característica. Variava a categoria (utilitários, compactos, cupês, sedãs), mas o objetivo dos projetistas era sempre o mesmo: oferecer ao motorista uma sensação de amplitude ao dirigir, o que hoje é item de série apenas nos conversíveis. Mas e o vento no rosto?, perguntarão os puristas. Pelo andar da carruagem tecnológica, eis um contratempo que os engenheiros não tardarão a solucionar.
De dois desafios mais complicados eles já deram conta. Para garantir a segurança dos viajantes em caso de acidente, trocaram os pontos de resistência da estrutura do veículo. Agora eles estão em duas barras nas laterais do teto. Além disso, o vidro é duplo e mais espesso que o pára-brisa ? tem em média 6 milímetros. Já para evitar que o sol transforme o interior do carro num inferno, e toste a pele dos incautos, desenvolveram a tecnologia eletrocromática. Tradução: reações eletromagnéticas escurecem ou clareiam o vidro automaticamente, segundo o gosto do freguês. É uma invenção da francesa Saint-Gobain, a maior fabricante de vidros do mundo. O único problema é o custo. ?Se você põe uma inovação dessas num Maybach de US$ 365 mil não faz diferença?, diz Christian Arlt, diretor de desenvolvimento de vidros da Audi. ?Mas acrescente US$ 10 mil no valor de um automóvel produzido em série. É inviável.? Uma alternativa, já usada no Peugeot 307 SW, precursor do telhado transparente, é uma substância aplicada entre as duas camadas de vidro que reflete os raios infravermelhos do sol.
Sonho e realidade. Mas no fabuloso mundo dos protótipos tudo é possível. E o que se viu em Frankfurt foram ?carros conceito? ? peças únicas, desenvolvidas especialmente para a ocasião, sem preço e sem definição de data para ganhar as ruas. ?Um carro conceito serve para testarmos novas tecnologias e ousarmos no design?, diz Chris Svensson, designer-chefe da Ford Europa. ?Mas a depender da reação do público que freqüenta o Salão, o sonho pode se tornar realidade.? Svensson fala de sonho com propriedade. O maior sucesso da feira deste ano leva a assinatura de sua equipe: o Visos. Além do teto de vidro e eletrônicos desenvolvidos com exclusividade pela Sony, o modelo é um primor de personalização.
Entre outras maravilhas, o motorista baixa da internet diferentes configurações de motor e as insere no Visos por meio de um laptop e uma porta USB. Existem duas maneiras de guiar o modelo, ?Conforto? ou ?Esporte?, que podem ser alteradas num simples toque de botão. Na primeira, as luzes do painel abrandam, o banco deita um pouco mais, a direção é bem suave. Na segunda, as cores dos relógios vibram, o banco se metamorfoseia para abraçar o motorista, a direção endurece, o volante chega mais perto, o câmbio deixa de ser automático. ?O Visos é o primeiro carro que acompanha o humor do dono. Isso não é fantástico??, empolga-se Paul Campbell, responsável pelo desenho interior do cupê. No Audi Pikes Peak, as maçanetas das portas se abrem com a aproximação das mãos do dono. Não é preciso tocá-las. No Renault Be Bop, os bancos ficam suspensos e ancorados no imenso console central. É tanta tecnologia que às vezes o teto de vidro vira detalhe. Atire a primeira pedra quem não acredita no sucesso desses carros.