Um senhor aparentando uns 50 anos entra apressado no edifício e declara à recepcionista: ?Gostaria de comprar pneus Pirelli, por favor?. A funcionária, incomodada, responde: ?Desculpe, mas aqui é a sede da pneus Continental?. Surpreso, o cliente rebate: ?Continental? Nunca ouvi falar!? O diálogo acima aconteceu no último dia 25, em Jundiaí, no interior de São Paulo, e é um típico exemplo da situação que a Continental, multinacional alemã de pneus, enfrenta no Brasil. Se você, caro leitor, também não conhece o grupo, vamos às apresentações: fundada em 1871, em Hannover, fatura atualmente de US$ 11 bilhões e produz 90 milhões de pneus ao ano, além de autopeças como freios e correias. É a primeira do ranking de pneumáticos na Europa e a quarta no mundo. Presente timidamente no País desde 1998, através da importação de produtos e de fábricas de autopeças em Ponta Grossa, no Paraná, e em Várzea Paulista, em São Paulo, o grupo prepara-se para dar o seu grande salto. Está na mesa do conselho da matriz na Alemanha o plano para a construção da sua primeira fábrica de pneus aqui, o
que exigirá investimentos de US$ 100 milhões. ?Estou muito
otimista. O início da construção da unidade está projetado para início de 2002, e será também em Ponta Grossa?, declara Dieter Saar, presidente da Continental Pneus para a América do Sul. Avesso à imprensa, Saar abriu uma exceção à DINHEIRO e
falou dos planos do grupo. Novidades não faltam.

Para enfrentar as quatro gigantes instaladas no País ? Pirelli, Bridgestone, Goodyear e Michelin ?, a nova fábrica deverá ter capacidade anual de 3,5 milhões de pneus. Poderá inclusive levar a médio prazo ao fechamento da unidade que a companhia utiliza na Grande Buenos Aires, em parceria com o grupo argentino FateO. A estratégia agressiva no Brasil se deve ao enorme mercado ? cerca de 40 milhões de pneus são produzidos ao ano e outros 40 milhões importados, movimentando cerca de R$ 8 bilhões. A conquista do acesso às grandes montadoras foi decisivo para os planos do grupo. ?Conseguimos os primeiros contratos com a General Motors, para quem fornecemos pneus desde maio.

Até dezembro estaremos trabalhando com a Volkswagen, Peugeot, Renault e Ford.? Os problemas desta última montadora com a Bridgestone, que resultou no rompimento de contrato nos EUA após os estouros de pneus do Explorer, favoreceram a Continental. Nenhum contrato foi cancelado pela Ford no Brasil, mas a necessidade de diversificar fornecedores ajudou os germânicos. O cenário favorável permite que Saar trace perspectivas muito favoráveis. ?Nossa meta é passar dos 185 mil pneus comercializados em 1999 para 1,3 milhão em 2002?. O faturamento saltará de R$ 30 milhões para R$ 190 milhões.

Desde sua chegada por aqui, a Continental precisou primeiro conquistar vendedores autônomos de pneus para reposição e depois chegar a concessionárias das montadoras. Saar sabia que nenhum consumidor iria trocar de uma hora para outra a marca dos cinco pneus do seu automóvel. ?Fizemos acordos com os revendedores, a fim de que sempre tivessem também marcas concorrentes para quem não quisesse trocar todo o jogo de pneus.? A estratégia deu certo. A marca possui hoje 370 revendedores e está estreando agora em franquias de autocenters, que serão responsáveis por toda a manutenção do veículo. A primeira foi inaugurada em março em Limeira, no interior paulista, e a meta é abrir mais 50 lojas em três anos. ?A estratégia permitirá alcançarmos a meta de elevar de cerca de 1% para 10% nossa participação no mercado de pneus.? Avançar mais que isto, diz Saar, será muito difícil, pois a concorrência só tende a aumentar. E a Continental não pretende fazer nenhuma manobra arriscada que acabe levando-a ao guard-rail do mercado.