19/04/2013 - 21:00
Possuir uma aeronave é símbolo de status, aqui e lá fora. Significa fazer parte de um grupo exclusivo, no qual apenas os mais abonados têm entrada garantida. No entanto, além do luxo, ser dono de um helicóptero ou avião implica também uma série de encargos e obrigações. Entre elas, não se descuidar das regras aeroportuárias, contratar pilotos, programar manutenções periódicas, pagar pelo uso de hangares e pistas nos aeroportos. Assim, alguns milionários brasileiros estão preferindo trocar o símbolo de status por comodidade e, com isso, abrindo mão da propriedade e da exclusividade no uso de suas máquinas voadoras, mesmo sem receber pagamento em troca.
Rogério Andrade, presidente da Avantto: ”o chique é ter acesso
ao meio de transporte, e não ser dono dele
“Está havendo uma mudança de comportamento, em que aquela necessidade de se sentir dono dá lugar a uma atitude mais racional”, diz Rogério Andrade, presidente da Avantto, empresa paulista de serviços de aviação. “O chique é ter acesso ao meio de transporte, e não ser dono dele.” A empresa – criada em 2011 pelo fundo Rio Bravo Investimentos, de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e dos empresários Mário Fleck e Paulo Bilyk, que administra R$ 7,5 bilhões em ativos – possui atualmente 350 clientes entre pessoas físicas e empresas, que incluem o banco Santander e a Vale. Juntos, eles utilizam 51 aviões e helicópteros.
A Avantto entrou no mercado de prestação de serviços aéreos com modelos de negócios que atendiam a dois públicos diferentes. Quem deseja possuir uma aeronave sem precisar assumir todas as obrigações com a sua manutenção pode adquirir cotas de 10% e 20% em um jato executivo ou helicóptero da Avantto. Para voar, os cotistas compartilham uma mensalidade a partir de R$ 60 mil para cobrir os custos com tripulação, seguros, uso de hangar e manutenção do veículo, além dos gastos de cada voo, que incluem combustível e taxa de uso de aeroportos que somam, em média, cerca de R$ 6 mil. Já o segundo público é o formado pelos donos de jatos e helicópteros que preferem repassar à empresa o trabalho de gestão.
Nesse caso, o cliente usa sempre a sua aeronave e não a compartilha com outro usuário. Em pouco tempo, porém, Andrade percebeu o desejo de alguns clientes de repassar a propriedade de seus helicópteros e jatos sem custo algum para a Avantto e aderir ao modelo de compartilhamento. Das 18 aeronaves sob esse tipo de contrato, 14 vieram de donos que resolveram repassar suas máquinas voadoras à empresa. Segundo ele, a maior parte dos casos de migração acontece entre os proprietários de helicópteros. Mas por que alguém estaria disposto a se desfazer de bom grado de um bem que exigiu um investimento que costuma superar a casa do R$ 1 milhão?
“A princípio, existe um certo receio de perder os privilégios, mas, depois, o antigo dono percebe que o programa lhe permite manter todos os benefícios, por apenas uma fração dos custos anteriores”, diz Andrade. Ao deixar de bancar sozinho as despesas do dia a dia, o ex-proprietário vai compensando o valor desembolsado pela aeronave. Ao mesmo tempo, evita uma série de problemas. Quando a aeronave está em manutenção ou o piloto está de folga, por exemplo, ele sabe que ficará a pé. No caso de participar do regime de compartilhamento, a Avantto garante o voo, mesmo que com outra máquina ou tripulação.
A preferência é pelo uso do mesmo modelo da aeronave do cliente, ou até superior. Se depender das condições da infraestrutura brasileira, a Avantto terá céu aberto para ver crescer as adesões a seus serviços. “Estamos crescendo 40% ao ano e vamos manter esse ritmo em 2013”, afirma Andrade. Os 51 aparelhos da empresa representam apenas 2,5% das duas mil aeronaves executivas operando no Brasil. E, com os gargalos nos aeroportos e a falta de voos comerciais para muitas cidades do interior, cada vez mais aviões e helicópteros particulares levantarão voo. Ou seja, haverá muita gente para quem Andrade poderá fazer a pergunta “Quer me dar a sua aeronave?”