i120098.jpg

De rivais a parceiros: petróleo e etanol estarão cada vez mais interconectados no futuro

 

Uma imensa mancha de petróleo começa a se alastrar pelos canaviais brasileiros. Mas não se trata de nenhuma catástrofe ecológica. Muito pelo contrário. Na verdade, as grandes empresas petrolíferas do mundo – sócias do restrito clube do Big Oil – estão se rendendo ao etanol brasileiro. E não apenas por razões ambientais como também econômicas. Prova disso foi a declaração dada pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, no Ethanol Summit, um evento que reuniu em São Paulo, na semana passada, as maiores autoridades do mundo em energia.

i120099.jpg

Bill Clinton: o ex-presidente americano foi uma das estrelas do Ethanol Summit e sugeriu que o Brasil exporte tecnologia em combustíveis limpos

 

“No Brasil, gasolina virou combustível alternativo e não adianta querer produzir mais para competir com o etanol”, disse ele. “O que temos de fazer é produzir mais etanol.” Gabrielli até brincou, sugerindo que as estações de abastecimento no Brasil não sejam mais chamadas pelos motoristas de “postos de gasolina”, mas sim de “postos de álcool”.

E previu que, em 2020, a gasolina representará apenas 17% do combustível usado em veículos de passeio no Brasil, contra 75% do etanol – o restante viria do diesel. Para enfrentar esse desafio, a Petrobras reservou US$ 2,8 bilhões do seu gigantesco plano de investimento para “invadir” os canaviais brasileiros. Será esse o valor gasto pela sua subsidiária Petrobras Combustíveis para comprar blocos acionários em usinas de álcool.

“Compraremos participações minoritárias, tendo sempre como premissa básica o retorno sobre o investimento”, disse Miguel Rossetto, presidente da empresa. O mais provável é que a Petrobras invista em usinas no Estado de Goiás, beneficiando-se do alcoolduto que será construído pela própria empresa e trará o etanol do Centro-Oeste aos principais portos do País.

 

i120100.jpg

 

O desembarque da Petrobras no mundo do etanol é um movimento natural, que reflete a revolução ocorrida no Brasil depois da chegada dos motores flex fuel. Hoje, mais de 94% dos carros vendidos no País são bicombustíveis e a tendência é de que, sem qualquer subsídio, o álcool se mantenha mais competitivo nas bombas do que a gasolina.

Mas muitos outros sócios do clube do Big Oil estão atentos a novas oportunidades no Brasil. A começar pela inglesa BP, que durante muitos anos foi chamada de British Petroleum, mas hoje prefere ser conhecida como Beyond Petroleum – uma empresa “além do petróleo”, portanto. O responsável por essa transformação foi o executivo John Browne, que também veio ao Ethanol Summit.

“Antes, as empresas de petróleo e biocombustíveis imaginavam pertencer a mundos distintos e antagônicos”, disse ele. “Chegou a hora de escrever um novo capítulo nessa história, com parcerias concretas entre essas duas indústrias”. No caso da BP, a empresa não ficou apenas no discurso. No ano passado, a empresa criou a Tropical Bioenergia, em parceria com o grupo Maeda, um dos gigantes do agronegócio nacional, e com a Santelisa Vale, a segunda empresa no ranking do açúcar e do álcool.

A primeira safra de cana da empresa, de 2,4 milhões de toneladas, começa a ser colhida neste ano. E, segundo o presidente da BP Biofuels, Mario Lindenhayn, o volume de produção de etanol dobrará nos próximos anos. Os sinais de aproximação entre os “caipiras” do etanol e os gigantes do petróleo já são explícitos. Há poucas semanas, o CEO mundial da Shell, Jereoen van der Veer, fez um elogio público ao etanol brasileiro e uma crítica aberta aos carros elétricos.

Não por acaso, surgiu a especulação de que a Shell estaria de olho na própria Cosan – a maior empresa brasileira de etanol. À DINHEIRO, o presidente da Cosan, Rubens Ometto, negou que exista qualquer operação em andamento com a Shell. Mas confirmou o namoro com as empresas de petróleo. “Elas fatalmente virão para o Brasil e participarão da próxima onda de consolidação do setor”, disse ele.

O próprio Ometto deu um passo importante nessa direção no ano passado, ao comprar, por US$ 826 milhões, a rede de “postos de álcool” da Esso no Brasil. Outro sintoma da sinergia entre petróleo e biocombustíveis é fato de a presidente da maior empresa de etanol do mundo, a americana Patricia Woertz, da ADM, ser ex-Exxon. Não por acaso, ela também tem um plano ambicioso de compra de usinas no Brasil.

A agenda ambiental dos Estados Unidos será mais um fator de impulso aos investimentos das empresas de petróleo em energias limpas. Estrela maior do Ethanol Summit, promovido pela Unica, associação dos usineiros, o ex-presidente Bill Clinton assegurou que o novo Congresso americano é muito mais progressista do que aquele que havia no seu tempo. “A administração Obama terá como perseguir metas agressivas de redução de emissão de gases do efeito estufa”, disse Clinton, que fez elogios ao modelo brasileiro de combustíveis.

“A cana é a fonte renovável mais competitiva disponível hoje no mundo e tem a maior taxa de conversão em energia”, afirmou. O aspecto ambiental também deve trazer investimentos para o Brasil. “O Big Oil precisa de nós para reduzir suas emissões de gás carbônico”, disse à DINHEIRO o empresário Maurílio Biagi, que controla o grupo Moema, com várias usinas em São Paulo. Outro fator de convergência é a tecnologia.

Hoje, um dos principais players do setor sucroalcooleiro é a empresa ETH, controlada pelo grupo Odebrecht e chefiada por José Carlos Grubisich, ex-presidente da petroquímica Braskem. Com o etanol gerado nas usinas da ETH, a Braskem já está desenvolvendo a chamada alcoolquímica e seu principal produto, que é o “plástico verde”. Além disso, o etanol pode prolongar a era do petróleo. “As reservas podem durar mais 40 anos, se houver um blend de gasolina e etanol”, disse à DINHEIRO o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.

US$ 2,8 bilhões é quanto a Petrobras investirá na compra de participações em usinas