Depois de tentar, entre 2018 e 2019, uma carreira de influencer do empreendedorismo – um pouco palestrante, um pouco consultor, um pouco youtuber -, o empresário Eike Batista submergiu.

Já são três anos longe das redes sociais e dos holofotes, apesar de ter 1,1 milhão de seguidores no Twitter.

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O início desse processo coincide com sua segunda prisão, que durou só um dia. Desde então, ele vem trabalhando para sair do inferno astral que dilapidou sua fortuna – em 2012, a sétima maior na lista global da revista Forbes.

Hoje, com patrimônio bloqueado e seu império empresarial reduzido a poucos e pequenos negócios – e certo mistério sobre suas atuais fontes de renda -, o ex-bilionário, pai pela quarta vez em março, não vive mais o glamour de outrora, mas parece longe de passar necessidades, trabalhando e morando em sua mansão no Rio.

Apesar do sumiço das redes sociais, o empresário voltou ao noticiário econômico com maior frequência este ano, por causa da novela que se tornou o processo de falência da MMX, a mineradora do Grupo X. E, a partir de amanhã, voltará ao showbiz. Sua cinebiografia chegará às telas dos cinemas de todo o País – Eike: Tudo ou Nada tem o ator Nelson Freitas no papel do empresário e teve o roteiro baseado no livro da jornalista Malu Gaspar sobre a ascensão e a queda de seu império.

O trabalho para sair do inferno astral passa pelo cumprimento do acordo de delação premiada – que inclui o pagamento de uma multa de nada menos do que $ 800 milhões – firmado com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

A percepção de assessores financeiros que trabalharam recentemente com o empresário é de que apenas com as pendências criminais resolvidas ele poderá voltar a trabalhar em novos negócios.

A volta por cima passa também por uma solução para a MMX, porque seu último ativo de valor mais elevado, um lote de títulos de dívida da mineradora Anglo American avaliado na casa de centenas de milhões, foi parar no processo de falência da companhia. Os dois temas andam juntos, porque o processo de falência da MMX tomou os títulos das mãos do empresário logo após ele oferecer os papéis como garantia de pagamento da multa milionária do acordo de colaboração.

CONTATOS

Desde 2021, Eike tem mantido contatos com envolvidos no processo de falência, principalmente por causa do processo de venda dos títulos da Anglo. O empresário chegou a ir a Belo Horizonte, no mês passado, na sede da vara do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), onde corre um dos dois processos de falência da mineradora. Foi à audiência para abrir envelopes com os lances na terceira tentativa de leiloar os títulos da Anglo no processo de falência da MMX.

Ao lado de seus advogados, assistiu a mais um fracasso. Em seguida, a 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte do TJ-MG determinou uma quarta tentativa de vender as debêntures e recebeu uma proposta do banco BTG Pactual. O próprio Eike e a Argenta Securities, corretora que fez uma das propostas ao longo das quatro tentativas de venda, recorreram da decisão. O processo acabou suspenso por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Pelo menos dois interlocutores de Eike nos últimos meses destacaram, sob condição do anonimato, sua postura otimista diante dos problemas. Segundo uma dessas pessoas, ele “está sempre pensando no futuro” e demonstra “muita vontade de voltar a empreender”.

‘INFLUENCER’

Em uma tentativa de volta por cima como consultor e “influencer”, entre 2018 e agosto de 2019, o empresário publicava vídeos motivacionais, dava entrevistas e garantia que tinha mais de dez projetos de negócios no forno.

“Já desenhei mais de dez empresas de US$ 1 bilhão”, disse Eike ao Estadão, em julho de 2019, quando se apresentou em um evento sobre empreendedorismo, em Florianópolis (SC), no qual foi recebido sob o grito de “ladrão!”.

“São na área de mineração, onde sempre tive sucesso, não só no Brasil, mas também no Chile e nos Estados Unidos. Estou mexendo na área de nanotecnologia, química e de materiais, como o grafeno, que é o material do futuro”, disse.

Naquela entrevista, Eike falou sobre os “dez unicórnios”, numa referência às startups que crescem rapidamente até valer US$ 1 bilhão, mas desviou de perguntas sobre quanto investiu nos projetos, quanto atraiu em investimentos de terceiros ou sobre quantos profissionais trabalhavam com ele.

Um ano antes, em agosto de 2018, já havia falado nos novos projetos de negócios, em longo depoimento ao Conexão Repórter, do SBT.

Numa reportagem que mostra seu cotidiano em meio a essa tentativa de volta por cima, abrindo as portas de sua mansão no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, Eike relata uma situação de patrimônio dilapidado, mas garante que ganha “muito bem” com suas consultorias.

Em outro momento da entrevista ao SBT, chega a dizer que o trabalho de consultoria “vale” US$ 1 milhão por mês, porque “minha cabeça vale dinheiro”, mas não fica claro se essa é a sua renda mensal.

Já em 2019, um mês depois da entrevista ao Estadão, Eike voltaria a ser preso, em mais uma fase da Operação Lava Jato tocada pela Procuradoria Regional fluminense do Ministério Público Federal (MPF). Essa segunda prisão logo seria revogada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), segunda instância do caso, mas parece ter marcado o fim da carreira de consultor e influencer.

Também chamou a atenção para a necessidade de afastar de vez o fantasma de novas prisões, focando na negociação do acordo de colaboração premiada e no processo de recuperação judicial da MMX.

O acordo de delação seria firmado em março de 2020 e, em novembro daquele ano, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por envolver políticos com prerrogativa de foro privilegiado.

Já falência da mineradora foi decretada em 2021.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.