O vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) admitiu nesta  terça-feira, 1, por meio de sua assessoria de imprensa, que se reuniu  com o engenheiro Nestor Cerveró em 2007, em São Paulo, quando estava  sendo discutida a substituição do executivo na diretoria Internacional  da Petrobras.

Segundo o peemedebista, o encontro foi  intermediado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, apontado como amigo do  ex-presidente Lula, que telefonou para Temer e comentou do pedido do  ex-diretor. Na ocasião, Temer era deputado federal e Cerveró queria ser  mantido no cargo. A informação do vice-presidente contradiz o depoimento  de Bumlai, preso há uma semana, à força-tarefa da Operação Lava Jato.  Nesta segunda-feira, 30, o amigo de Lula afirmou que não se dedicou a  ajudar na manutenção de Cerveró no cargo estratégico da estatal.

Bumlai  citou, no fim de seu depoimento, o lobista Fernando Falcão Soares, o  Fernando Baiano, suposto operador de propinas do PMDB e um dos delatores  da Lava Jato. “Gostaria de consignar que muito embora não se lembre se  Fernando Soares lhe solicitou que intercedesse junto ao então Presidente  da República (Lula) na manutenção de Nestor Cerveró na Diretoria da  Área Internacional, recorda-se nunca ter envidado esforços para esta  finalidade”, afirmou Bumlai.

Segundo o vice-presidente  Michel Temer, Cerveró estava buscando apoio para permanecer na estatal. O  peemedebista alega que disse a Cerveró, no encontro, que “não poderia  fazer nada”. Ainda segundo Temer já havia uma indicação do então  presidente do PMDB de Minas, Fernando Diniz – morto em 2009 -, para  nomear o engenheiro Jorge Zelada para o cargo.

Michel  Temer, ainda por meio de sua assessoria, disse que na época não havia  nenhuma denúncia ou suspeita de irregularidade envolvendo Cerveró na  Petrobras.

Nestor Cerveró foi preso na Lava Jato em janeiro  de 2015. Condenado a 18 anos de prisão por corrupção e lavagem de  dinheiro, o ex-diretor se tornou, em 18 de novembro, o novo delator do  esquema de propinas instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. Ele é o  pivô da prisão do senador Delcídio Amaral (PT/MS).

Outro  personagem da Lava Jato, o lobista João Augusto Henriques, ligado ao  PMDB, afirmou em depoimento à Polícia Federal que Fernando Diniz o  convidou para ser o diretor Internacional da Petrobras.

João  Henriques foi preso em 21 de setembro na 19ª fase da Lava Jato e  revelou ter depositado “pouco mais de um milhão de dólares” em uma conta  que depois veio a saber pertencia ao presidente da Câmara, deputado  Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo Henriques, a transferência para Cunha  foi feita a pedido de Felipe Diniz, filho de Fernando Diniz.

Em  sua delação premiada, Fernando Baiano também citou o deputado Fernando  Diniz. Segundo Baiano, ele se reuniu com um advogado, ligado a Fernando  Diniz, para tratar da permanência de Cerveró na Diretoria. O lobista  disse ao Ministério Público Federal que não se lembrava do nome do  advogado, que mantinha negócios com o deputado.

“Na reunião  o advogado falou que realmente a bancada mineira do PMDB na Câmara dos  Deputados tinha a prerrogativa de indicar o Diretor Internacional da  Petrobras e que inclusive havia intenção de indicar o nome de João  Augusto Rezende Henriques; que, no entanto, o nome de João Augusto  Rezende Henriques estava tendo dificuldades de ser aprovado porque ele  tinha um processo em trâmite no Tribunal de Contas da União em razão de  fotos relativos ao período em que havia trabalhado na BR Distribuidora”,  relatou Fernando Baiano.

Na delação, o lobista afirma que  sugeriu que Cerveró fosse mantido no cargo “mediante ajuda à bancada  mineira do PMDB na Câmara dos Deputados”. “Diante disso, o advogado  solicitou o pagamento de aproximadamente R$ 1 milhão mensais para a  bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados, a fim de que Nestor  Cerveró fosse mantido no cargo de Diretor Internacional da Petrobrás. O  depoente explicou que, pelo fato de a Diretoria Internacional da  Petrobrás não ter contratos constantes, tendo apenas negócios pontuais,  não teria como assumir esse compromisso.”

Naquela ocasião,  narrou Fernando Baiano, o pecuarista informou que, em razão da ajuda de  Cerveró na contratação do Grupo Schahin para operação do navio sonda  Vitória 10.000, o executivo havia sido indicado para a Diretoria  Financeira da BR Distribuidora.

“Pelo que o depoente  subentendeu, essa questão da indicação de Nestor Cerveró para a  Diretoria Financeira da BR Distribuidora, em retribuição à ajuda  prestada na contratação da Schahin para operação do navio sonda Vitória  10000, teria sido tratada com o presidente Lula.”

Nestor  Cerveró acabou indicado para o cargo de diretor financeiro da BR  Distribuidora, onde permaneceu até ser preso. Jorge Zelada assumiu o  posto de Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras. Segundo  Fernando Baiano, indicado pela bancada mineira do PMDB, na Câmara.