Do front externo, embalado pela bandeira furada do golpe que o PT vendeu como estratégia de marketing, veio no primeiro momento uma desconfiança latente. Da Europa aos EUA, com o estridente barulho de países latinos comandados por governos populistas, saltaram indagações sobre a legitimidade do processo. A troca de guarda na presidência do Brasil traria, por consequência, ruptura democrática e instabilidade para os negócios? A dúvida em parte ainda não se dissipou e é natural que assim seja dado o desconhecimento das leis internas e o temor, sempre presente, na ascensão de novos governantes que podem e buscam encaminhar mudanças.

Ciente dessa inquietação lá fora é que o presidente Michel Temer embarcou, logo após tomar posse, para um giro internacional que não deixa de ser a sua avant-première como chefe de estado. Temer encara na China o G-20, o bloco de países das maiores economias do mundo, com ares de renovação das relações comerciais. Quer estreitar os laços com mais acordos bilaterais, com maior entendimento nas transações e com incentivos a investimentos. A economia de volta aos trilhos e sem quebra de regra no jogo é o melhor antídoto para desanuviar os ânimos.

Americanos e europeus, há muito tempo, já colocaram o Brasil na rabeira de suas prioridades dado o pouco caso que as gestões petistas tiveram com esses parceiros. Temer tenta mudar isso. Que mostrar ao mundo, especialmente ao grupo das nações mais desenvolvidas, que há razões para voltar a apostar por aqui. Em breve – até meados de setembro – anunciará um ousado plano de concessões públicas e com essa carta na manga sairá em busca de investidores interessados. Resgatará a ideia do “estado mínimo” no papel apenas de indutor do crescimento, abrindo largo espaço à iniciativa privada. No encontro do G-20 o Brasil ainda é tido e havido como um doente em recuperação cujo PIB caiu mais 0,6% no segundo trimestre do ano.

A recuperação já se prenuncia no horizonte. Houve uma melhora na indústria e as inversões de capital voltaram a ocorrer após 10 trimestres seguidos de queda. Esses sinais positivos só não são considerados como alvissareiros pelo bloco do Mercosul e alguns outros vizinhos que insistem em encarar a transição pela ótica exclusiva de suas convicções políticas. A Venezuela, por exemplo, chegou a congelar as relações e classificou de “golpe oligárquico” o impeachment de Dilma. Nicolás Maduro, que promoveu a mais dramática escassez de produtos de mercado e adota procedimentos nada democráticos que irrita boa parte dos conterrâneos, tinha na presidente deposta, Dilma Rousseff, uma aliada e incentivadora.

Após a sua queda a Venezuela sofreu resistências inclusive no Mercosul e agora retalia o Brasil. Em resposta o chanceler Serra chamou de volta o embaixador brasileiro baseado em Caracas. Medida idêntica tomou o Equador que convocou seu representante diplomático lotado em Brasília. Essas diferenças com parceiros nanicos traz pouca ou quase nenhuma consequência financeira para a balança comercial daqui. Já na via contrária o impacto é inegável. De uma maneira ou de outra, serão pendengas internacionais como essas que, logo de saída, vão se apresentar no caminho de reconstrução do País trilhado por Temer. Resta saber se a sua habilidade para negociar irá prevalecer.

(Nota publicada na Edição 983 da Revista Dinheiro)