DINHEIRO ? O que muda na operação brasileira do Groupon com a sua chegada? 

PATRICK SCHMIDT ? A primeira vez que vim ao Brasil foi há cerca de seis meses. Fiquei impressionado com o tamanho da nossa operação aqui. Montei e chefiei o Groupon na Austrália, mas o mercado brasileiro é, para nossa companhia, pelo menos cinco vezes maior do que o de lá. Isso me surpreendeu. Chamaram-me a atenção, também, os preços de São Paulo e do Rio de Janeiro. As cidades de Berlim ou Munique, por exemplo, são muito mais baratas. Estamos presentes hoje em 50 municípios brasileiros, temos mil funcionários, vendemos cerca de 20 mil cupons diariamente e somamos mais de 20 milhões de usuários cadastrados. O Brasil é o nosso maior mercado, no quesito de usuários, atrás apenas dos Estados Unidos. Internamente meu foco principal é na gestão da empresa, que até então era administrada como uma start-up. Para mudar isso, estamos reforçando o time com pessoas vindas de grandes empresas, consultorias e universidades, como McKinsey, AmBev e Harvard. E intensificando o foco na qualidade das ofertas para garantir a satisfação do consumidor.

 

DINHEIRO ? As empresas de compra coletiva são responsáveis por muitas citações em sites como o Reclame Aqui, especializados em queixas de consumidores. Como mudar esse cenário? 

SCHMIDT ? Nosso compromisso é resolver qualquer reclamação e também diminuir o número de problemas. E há algumas coisas a considerar. Vendemos cerca de 20 mil cupons diariamente. É um número muito alto. E ter algumas reclamações não é algo que desejamos, mas isso faz parte de qualquer negócio. Se você olha para o ranking do Reclame Aqui, que chamo de o ?muro da vergonha?, vai ver que já fomos o site com o maior número de reclamações. Um desastre. Agora, estamos na quinta colocação, que ainda não é aceitável, mas já é uma evolução. No entanto, continuamos no muro da vergonha, do qual temos de sair. Para mudar, estamos investindo no controle de qualidade de cada promoção.

 

DINHEIRO ? Que precauções as microempresas devem tomar antes de se tornar parceiras de sites de compras coletivas? 

SCHMIDT ? Para evitar problemas, criamos uma espécie de filtro das ofertas. O processo de aprovação de uma promoção pode levar uma semana ? antes, durava menos da metade. Ampliamos o time de controle de qualidade para garantir, por exemplo, que não serão vendidos cupons acima da capacidade de um estabelecimento. Ajudamos os anunciantes a calcular sua real capacidade. Toda oferta, hoje, tem um limite. Se ele for atingido, tiramos a promoção do ar. Isso faz parte de um processo de amadurecimento. O grande número de reclamações no Reclame Aqui tem relação com esse problema de capacidade.

 

DINHEIRO ? O fundador e CEO, Andrew Mason, disse aos acionistas que queria tornar o Groupon ?o sistema operacional do comércio local?. O que significa isso? 

SCHMIDT ? Quando você olha para os mais variados setores da economia, seja da indústria, seja de serviços, é possível ver como a internet mudou o seu negócio e como tiraram proveito disso, de uma maneira bastante eficiente. Um ótimo exemplo são as companhias aéreas. Graças à web, elas administram a demanda com uma boa precisão e têm uma taxa de ocupação de aviões muito maior do que há dez anos. Isso também é verdade para os setores de telecomunicações e bancário. Mas se você pensar no seu restaurante favorito, salão de beleza ou qualquer outro negócio local, o impacto da internet foi quase nulo. Para pequenos comerciantes, a tecnologia é algo caro e dispendioso. Abrimos as portas do comércio eletrônico e suas vantagens para eles, mas acho que estamos apenas arranhando a superfície de uma oportunidade muito maior para nós e todos os negócios locais.

 

DINHEIRO ? Mason também diz que o Groupon não seria só um provedor de ofertas, mas o ?ponto de entrada para transações locais?. O que seria isso? 

SCHMIDT ? As ofertas que enviamos por e-mail são apenas o começo. Estamos nos desenvolvendo e incluindo mais áreas, como produtos e viagens. E novos serviços e categorias virão no futuro. Um dos nossos focos principais são os smartphones. Faz tempo que eles deixaram de ser apenas celulares, há muitas oportunidades de negócio nessa área. Temos aplicativos para todas as plataformas, mas isso também é apenas o começo. Com os smartphones, é muito mais fácil e rápido para os clientes. 

 

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Consumidores na avenida Paulista, em São Paulo, onde fica a sede da empresa no País.

 

DINHEIRO ? O Groupon comprou a start-up Breadcrumb nos EUA. Haverá mais aquisições, inclusive no Brasil? 

SCHMIDT ? Sim, sem dúvida. Devemos comprar mais empresas nos próximos meses. Foram mais de dez start-ups adquiridas desde novembro, quando fizemos o IPO. Não posso dizer onde e quando essas novas aquisições acontecerão. Nosso foco está em empresas como o Breadcrumb, que oferece aplicativos para gestão de restaurantes. 

 

DINHEIRO ? As ações do Groupon chegaram no início do mês ao seu menor valor histórico, abaixo dos US$ 10. Em fevereiro, estavam acima de US$ 20. O modelo das compras coletivas está se esgotando?

SCHMIDT ? Não vejo os valores das nossas ações diariamente. Se em dois anos elas estiverem abaixo de US$ 10, talvez seja algo com o que devamos nos preocupar. Para nós esse é um jogo de longo prazo. A segunda-feira 4, por exemplo, foi o fim do período em que investidores e funcionários não podiam vender seus papéis. Enfim, há muitos fatores externos que afetam o preço da ação, e poucos guardam relação com o nosso desempenho. Empresas bem-sucedidas, como Google e Amazon, já tiveram momentos difíceis. A Amazon demorou mais de seis anos para ter o primeiro lucro. Temos apenas três anos de vida e registramos lucro no último trimestre.

 

DINHEIRO ? Como o sr. vê a competição no mercado brasileiro com sites como Peixe Urbano, Hotel Urbano e ClickOn? 

SCHMIDT ? Já somos líderes no Brasil. Por isso, não me preocupo muito com a concorrência. Meu foco está em melhorar a relação com os consumidores. É isso o que vai fazer a diferença. Acredito que estejamos no caminho certo, uma vez que o número de anunciantes que nos procuram é maior do que podemos atender. Esse é um mercado mais difícil do que pode parecer à primeira vista. Não é por acaso que o Brasil já teve mais de mil sites de compras coletivas. A maior parte morreu. 

 

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Jeff Bezos, fundador da Amazon, a maior loja virtual do mundo.

 

DINHEIRO ? Há um bom ambiente para o desenvolvimento de start-ups no Brasil? 

SCHMIDT ? Há oportunidades e dinheiro disponível para novos negócios no País, em comparação com a Europa e até mesmo com os Estados Unidos. Outra coisa importante é que há muitos talentos locais. E isso é tão ou mais importante que dinheiro. Por isso, se não trabalhasse no Groupon, certamente montaria uma start-up no Brasil. Não vejo outro lugar melhor para isso. 

 

DINHEIRO ? O que é mais importante para o futuro das compras coletivas: os dispositivos móveis ou as redes sociais? 

SCHMIDT ? O futuro está nos smart-phones. As redes sociais são importantes para se relacionar com os consumidores e espalhar as promoções, mas em uma escala de importância muito menor em relação aos celulares.

 

DINHEIRO ? Por que os smartphones vão se tornar tão importantes? 

SCHMIDT ? Há cerca de um ano, Andrew Mason apresentou o Groupon Now!, um aplicativo que vai ajudar as pessoas a programar seu dia a dia. Não importa o que você quer fazer. Pode ser comer, assistir a um espetáculo, fazer uma massagem, etc. ? o Groupon Now! terá uma oferta para você. E é bom para os negócios locais porque eles podem oferecer novas promoções sempre que quiserem. Se um café estiver vazio numa quarta-feira à tarde, será possível publicar uma oferta para quem estiver na vizinhança e em alguns minutos as pessoas começarão a chegar. Nossa missão é tornar o comércio local mais eficiente. Durante anos, eles não investiram em marketing, porque era complicado e o retorno era duvidoso. Oferecemos algo gratuito e cujo retorno pode ser percebido quase instantaneamente. Testamos esse formato durante um bom tempo em algumas poucas cidades nos EUA e estamos expandindo agora para todo o país, mas ainda deve levar um tempo até chegar ao Brasil.

 

DINHEIRO ? Qual a maior fraqueza do serviço de compras coletivas? 

SCHMIDT ? Nosso maior desafio é saber mais sobre os nossos usuários. Ainda enviamos ofertas para as quais muitos dos clientes não têm interesse. Oferecemos uma oferta de viagem para Cancún para alguém que acabou de voltar de férias de lá ou um corte de cabelo para alguém que não quer cortar o cabelo. Se conseguirmos entender melhor quem é cada um dos clientes e apresentar-lhe ofertas que realmente interessem, seria perfeito para os negócios locais. Estamos evoluindo muito nisso, nos EUA, mas ainda há muito a ser feito.