O Brasil tem hoje a possibilidade de encerrar o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a menor taxa de inflação média desde 1994, ou seja, o mais baixo nível de ajustes de preços desde o Plano Real. A observação foi feita nesta segunda-feira, 6, pelo ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, ao entrevistar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na abertura do “Macro Day”, evento anual do banco, que está sendo realizado hoje na capital paulista.

Durante um bate-papo com o ministro que durou mais de uma hora, Mansueto lembrou que o ano começou com as expectativas do mercado em relação à inflação apontando para o IPCA encerando 2023 em torno de 6%. Isso muito em função de no ano passado a inflação de serviços ter encerrado entre 8% e 9%. E, segundo Mansueto, os economistas entendiam que para esta inflação de serviços cair teria que se assumir um aumento muito forte do desemprego.

“Qual foi a surpresa deste ano? A inflação de serviços caiu muito forte, está girando em torno de 4,5%, 5% e o desemprego caiu para a menor taxa desde 2014. A inflação caiu muito; esperamos no BTG 4,5%, ano que vem o mercado espera uma inflação em torno de 4% e em 2025 e 2026 em torno de 3,5%. Se agente pegar estes índices que o mercado espera, terminaremos este governo a menor inflação média de quatro anos desde 1994”, disse Mansueto.

Ainda, segundo Mansueto, desde 1994 com o Plano Real, o governo que teve a menor inflação média em quatro anos foi o segundo Lula, que teve inflação média de 4,51% ao ano. “Então a gente tem um risco positivo de terminar este governo com a menor inflação média desde 1994”, disse Mansueto.

Além disso, emendou o economista do BTG, “a gente está indo para um ano espetacular do ponto de vista de trocas com o resto do mundo”. De acordo com Mansueto, em 2021 o Brasil teve um saldo na balança comercial de US$ 60 bilhões, ano passado recorde histórico de US$ 62 bilhões. “Em 2023 esperava-se um recorde histórico, sendo muito otimista, de US$ 75 bilhões e a gente está indo para algo perto de US$ 95 bilhões, o que tem ajudado bastante o fluxo de câmbio comercial e uma taxa de câmbio que tem se mostrado estável, com o real se valorizando apesar da turbulência dos juros americanos”, disse.

Para Mansueto, são coisas positivas, mas, se houver um pouco mais de confiança, todo mundo vai trabalhar para tentar melhorar o fiscal, o que poderá levar a uma melhora expressiva do cenário de curto prazo.

Neste ponto, o ministro Haddad pediu a palavra a Mansueto para complementar que inflação do ano passado, na casa de 9%, estava artificialmente baixa porque ela decorreu de seis meses de total desoneração dos combustíveis. Isso se deu tanto do ponto de vista do governo federal quanto da imposição das leis complementares para os governos estaduais.

“Então, de fato, a inflação do ano passado não estava rodando neste patamar. Como o próprio Banco Central afirmou em uma das suas atas, a inflação do ano passado estava rodando a mais de 10% se fosse levado em consideração a necessidade de reoneração que aconteceu só este ano. E esse ano a inflação vai bater 5% apesar da reoneração”, disse Haddad acrescentando que estamos em um momento trocado.

“Estamos fazendo o certo do ponto de vista fiscal e trazendo a inflação para menos da metade do que foi no ano passado com o artifício de baixa a inflação com as Leis Complementares 192 e 194. Isso é muito relevante porque não está sendo baixada a inflação na marra, artificialmente. Está sendo feito um trabalho para que isso aconteça já num ciclo de corte da Selic, que na minha opinião vai continuar porque vamos continuar trabalhando em parceria para continuar esse ciclo de cortes”, disse o ministro.

Ele disse ainda querer crer que condições do mundo – que estão atrapalhando a economia brasileira em função das taxas de juros nos EUA e Europa – também possam vir a ser corrigidas ao longo do próximo ano. Haddad lembrou que os indicadores americanos divulgados na sexta-feira (3) já deram sinais de que o aperto monetário americano já pode parar por aí e, quem sabe, no médio prazo começar uma trajetória virtuosa e a favorecer economias como a brasileira.